UFV
- UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
JOÃO
BATISTA DE PAULA
OS
CAMINHOS E OLHARES NO E DO FILME
“O
MENINO E O MUNDO”
VIÇOSA
/ MG
2016
* Graduado em história, com pós-graduação em história do Brasil, professor há mais de 25 anos, lecionando no ensino fundamental, médio, superior, conteúdos da área de Ciências Humanas.
RESUMO
O filme “O Menino e o
Mundo” é desses que nos provoca inquietude, muitas análises, olhares
diferentes, percepções diversas, uma viagem do rural ao urbano, uma viagem (do
espectador) dentro de outra viagem (a personagem). É um filme de animação, obra
de arte do desenho simples, mas impactante no mostrar a mercantilização da
vida, da alma, da técnica, do tempo. Uma viagem às angustias, desilusões,
arregimentações da modernidade. Talvez um ponto de vista diferente veja como
uma poesia para a musa esperança. Por isso, uma viagem imperdível.
Palavras-chave:
Menino. Mundo. Família. Rural. Urbano. Capitalismo. Paisagem. Esperança.
Capa do filme: "O Menino e o Mundo". |
Introdução:
O
filme “O Menino e o mundo” A é uma obra de arte a serviço das
condições humanas, a linguagem das imagens, os sons, as figuras, desenhos,
colagens, o material utilizado, os planos, são tão perfeitos e nada parece
estar fora do lugar. Tem-se a impressão, ao ver o filme, que vemos a nós
mesmos, com as angústias, os medos, o assombro, as ilusões, desejos, comuns aos
humanos.
O que não acontece são sentimentos de
passividade no desenvolvimento do filme, ele é elegante, sensível, tem força
política, conteúdo, sabedoria e convida às múltiplas reflexões. Tem roteiro e
direção de Alê Abreu, classificado no gênero aventura, categoria animação,
classificação etária livre, lançado no Canadá em 2013, no Brasil seu lançamento
foi no começo 2014. Candidato ao Oscar 2016 na categoria animação. Venceu nos
Estados Unidos o “Annie” na categoria melhor longa de animação, independente.
Ganhou também prêmio do júri e público, do Annecy (Festival de animação -
França). Recebeu mais de trinta prêmios, em diversos países como França,
Portugal, Cuba, México, E.U.A., Brasil, entre outros. Muito pouco visto e
comentado no Brasil quando do lançamento mas, com a indicação ao Oscar o filme
ganhou novo fôlego, notoriedade e voltou a ser exibido no Brasil, já com outro
olhar, mais atento, por muito mais pessoas.
Na
contramão das produções hollywoodianas, com seus elevados investimentos e muita
tecnologia envolvida, o “Menino e o Mundo” utiliza-se de técnicas simples de
desenhos com lápis, canetas, giz de cera, colagens, aquarelas, colocados a
serviço da história de forma bem artesanal e impecável. Nenhum detalhe foge à
equipe de criadores. No dizer do Pericás, “este é um filme de artesãos, que
opera numa lógica muito distante da linha de produção computadorizada e
homogeneizadora de Hollywood”.
(PERICÁS, 2016)
A
trilha sonora, bem como os sons, são outro fator a ser considerado. Músicas bem
colocadas, fazendo sentido com a história e com os desenhos e as notas
harmonizam com as cores, com os momentos do enredo. Também os sons, já que o
filme não tem diálogos claros, as falas são inversas dando a ideia de uma
língua diferente e desconhecida, incompreensível, mas que somados aos ruídos,
sons ambientes, do filme, proporciona ao mesmo tempo beleza, candura e
rupturas, impactos. Na crítica ao filme,
feita Pericás e Ribeiro, vê-se a diversidade e versatilidade dos temas
abordados:
Se depara (o menino - personagem)
com a exploração dos trabalhadores no campo, dispensador por fraqueza ou
enfermidades; com a falta de perspectivas; com a desigualdade social; com a
pobreza; com os lares desfeitos; com a destruição da floresta; com a opressão;
com o desemprego; com a automação; com as favelas; com os efeitos da migração;
com a violência institucionalizada. Todos são triturados pelo cotidiano
esmagador, no qual as paisagens industriais estão repletas de seres alienados
por TVs gigantes e vitrines de lojas de roupas. E também por apresentadores de
telejornais sempre sorrindo enquanto enganam os espectadores. (...) Os homens
sempre vigiados por um Estado policial militarizado, fascista, que não hesita
em enviar tanques e soldados com escudos e cassetetes para garantir o controle
social sempre necessário: o pássaro negro espreita a todos... Um mundo, sem
dúvida, desumanizado e selvagem, com empresários, “coronéis”, patrões, executivos...
e onde até as máquinas, trens, carros blindados, navios e guindastes se parecem
com animais. (PERICÁS, 2016)
...observamos
a superficialidade das relações humanas, a deterioração das cidades, a poluição
visual e a destruição da natureza. Assim é perceptível a mudança de um colorido
bucólico, para um cinza/negro que representa as cidades e esse universo de
trabalho e consumo obrigatórios. (RIBEIRO, 2016)
A história do filme é simplória: um filho,
morador da zona rural, sai em busca do pai que foi tentar melhor sorte na
cidade grande. Volta ao final do filme para sua terra e traz consigo a
experiência da viagem, da busca, das aventuras, das lembranças, as cicatrizes,
as marcas, as experiências vividas, as angústias, as arregimentações, as
uniformidades e as diferenças. Uma jornada pouco épica, já que no filme não se
estabelece data, nem tempo, apenas espaços de acontecimentos sociais e
técnicos.
Nessa
jornada de busca, os olhares são múltiplos, tanto da personagem do filme, um
menino, quanto do espectador que se vê envolvido em um emaranhado de imagens
que nos remete às diversas situações urbanas. Eis aí o maior interesse que o
filme pode despertar, as peculiaridades de um sistema econômico, social,
técnico, urbano. Nem sempre humano, como há de se perceber no filme.
O Rural.
O
filme começa com o menino (Cuca) interagindo com a natureza, galinhas, cavalos,
o riacho de águas mansas e peixes, borboletas, patos deslizando na água,
carreira de formigas B, as nuvens, pássaros, embalados por um som de
flauta doce, em ritmo lento, onde tudo se mistura e interage. Esse ritmo do
filme no início é intencional, uma forma de contrapor o ritmo da cidade que no
dizer de Milton Santos, “acumula tempos desiguais” (SANTOS, 1989)
A
calmaria é quebrada por uma centopeia gigante, fumando um cachimbo, (o trem)
que leva o pai de Cuca para a cidade. Em busca de melhores condições de vida.
Entre lembranças do pai, o menino guarda o som da flauta que o pai tocava em
uma latinha e a enterra. É a necessidade humana de memórias, ainda que
imateriais.
A
partir daí a personagem inicia sua jornada em direção a cidade, com a intenção
de encontrar o pai. Este processo migratório campo-cidade (êxodo rural) tão
intenso na sociedade brasileira e no mundo. No dizer de Rykwert:
“Duas
ondas de populações rurais miseráveis se abateram sucessivamente sobre as
cidades do mundo, inundando e inchando o tecido urbano quase até o ponto de
ruptura. Foi a primeira dessas ondas, de fins do século XVIII a início do XIX,
que deu forma para o tecido urbano que conhecemos. A onda recente e muito maior
que tomou impulso em meados do século XX ainda não se abateu: estamos nos
debatendo nela e ainda não conseguimos distinguir suas modalidades ou avaliar
seu impacto com acuidade”. (RYKWERT, 2004,p.27)
Em
sua caminhada o menino se depara com a colheita do algodão, a colocação e
transporte desse algodão. Uma banda de música sugerindo uma possível festa da
colheita comum nas culturas locais e que fazem parte do imaginário popular,
muitas vezes importado do espaço rural para o urbano. Como salienta Bresciani,
quando nos abre as sete portas da cidade:
A
sexta porta abre a possibilidade de estudo da cultura popular. Sobre ela pouco
posso falar. Para mim, é algo que se entrevê, uma outra forma de comportamento
que escapa aos moldes prevalecentes da cultura burguesa, um outro referencial
de relacionamento, que cabe mal nos moldes racionalizadores
do padrão “civilizado” ”. (BRESCIANI, 1991,p.12)
Seu
primeiro contato com objetos relacionados a cidade se dá ainda nas plantações
de algodão onde Cuca se espanta com a grandiosidade e a velocidade de caminhões
e de um avião.
Logo
em seguida há a escolha de trabalhadores, fortes, saudáveis, sendo excluído do
processo os velhos e doentes. Vê-se as primeiras imagens da mercantilização de
vida humana. Muito mais, quando, logo em seguida o menino chega a uma fábrica
de tecidos e se depara com o processo produtivo e os trabalhadores em gestos
uniformes, sequenciais, como uma extensão das máquinas, um apêndice delas. Em
nada parece seres humanos, a não ser no biótipo. Nota-se também o número
elevado de trabalhadores na tecelagem. A relação de poder dos donos da fábrica
que se expões nos objetos que utilizam, na postura, na vestimenta. Pesavento
comenta:
Assim,
a cidade era abordada com base em sua dimensão espacial, mas vista através de
um processo econômico-social preciso: ela era o território onde se realizava um
processo de produção de capital e onde se produziam as relações capitalistas e,
por força de opção teórica, onde se enfrentavam as classes
sociais e se podia apreciar o processo de dominação/subordinação em curso.
Como resultado de tais estudos, revelou-se
a emergência de um fenômeno urbano revelado na complexidade das transformações
econômicas havidas e no dinamismo de seus grupos sociais, sobretudo abordado de
um ângulo classista, a enfocar a burguesia e o operariado (PESAVENTO, 2007,p.13)
Ou
ainda, como pondera o prof. Milton Santos:
Como
a localização das diversas etapas do processo produtivo (produção propriamente
dita, circulação, distribuição e consumo) pode doravante ser dissociada e
autónoma, aumentam a necessidades de complementação entre lugares, gerando
circuitos produtivos e fluxos cuja natureza, direção, intensidade e força
variam segundo os produtos, segundo as formas produtivas, segundo a organização
do espaço preexistente e os impulsos políticos. (SANTOS, 1994,p.63)
Do
plantio do algodão, transporte, fabricação do tecido, transportes, confecção de
roupas, transportes, vitrine do comércio, todo este espaço de circulação, não
por acaso, é acompanhado pela personagem do filme
O urbano.
Ao
término do horário da jornada da fábrica os trabalhadores se amontoam em
ônibus, exaustos, indiferentes à paisagem urbana que começa a aparecer e a
provocar diversas sensações, percepções, emoções, tanto na personagem, Cuca,
quanto no espectador. Elevam se as cores, ficando mais quente, com mais
textura. Assim como o plano das imagens passam a ficar mais próximos, mais
ameaçadores C.
É
o primeiro contato do menino com propagandas de pessoas sorridentes, semáforos,
luzes, prédios, uma banda de música, uma força policial segurando um trânsito
caótico em uma das ruas, os sons passam a ter uma dimensão maior, mais confuso.
Os flocos de som não são mais coloridos, são negros, mostrando a força de
coerção do Estado. O poder do aparato do Estado.
Maquinas
representativas de animais transitam emitindo sons de animais, assim como
guindastes em obras na construção de prédios e outros aparatos urbanos,
mostrando a verticalização e a constante transformação do espaço urbano, também
parece vivos D. Passa-se com clareza a ideia de centro, enquanto na
última parada o ônibus estaciona em frente a um amontoado de casas, típicas de
periferia. Já não é tão intenso o barulho e os movimentos são mais lentos.
Seguindo
o último passageiro as personagens passam em frente a um prostibulo, uma igreja,
bares, e a reação de Cuca é de espanto diante da novidade que se apresenta.
Esgotado, é ajudado para alcançar a residência do último passageiro que mora no
alto da favela.
Ao
adentrar no barraco, o menino se depara com algumas plantas plantadas em latinhas,
expostas na janela enquanto seu novo companheiro retira do armário comida
pronta, em muitas embalagens de lata do mesmo produto e da mesma que estavam as
plantas. Cuca pôs-se a regá-las.
Ligam
a TV e as imagens de alimentos, pessoas sorridentes e felizes, produtos
diversos, como sapatos, bolsas, hambúrguer, explodem na tela. O menino observa
e preserva sua memória em uma foto da família. Dormem.
O
dia amanhece, transito caótico, a cidade colorida com suas propagandas e rostos
sorridentes F, a praia lotada G e eles vão para uma feira
de artesanato onde se vende de tudo e o amigo de Cuca amonta uma barraca de
música para defender o complemento da renda, em trabalho informal. Novamente a
música é apresentada em flocos coloridos.
Novamente
é mostrado no filme as constantes transformações que passa a cidade E.
Construções de prédios, vendas de apartamento, gente de sorriso largo
oferecendo produtos e serviços, percebe-se o império da felicidade em um
emaranhado de imagens de pessoas e produtos. Quase nunca nestes locais são
mostrados o chão da cidade, que parece elevar-se. Desatendo e adormecido o
menino é levado ao porto, se mistura a contêineres e embarca junto com a carga
para o oceano. Lá depara com cidades flutuantes, como ilhas flutuando em suas
redomas, com sistema de defesa exposto, alguma semelhança com os atuais
condomínios fechados não é mera coincidência. Tudo na cidade é muito
imaginativo e extremamente organizados e paradoxalmente misturado no todo
urbano H. Impossível?
Segundo pesavento, não:
Paisagens
urbanas encontraram uma outra expressão, documental e ficcional, com a entrada
em cena do filme. O cinema recompõe, pela imagem em movimento, a expressão da
vida na urbe, metrópole ou pequena cidade, a exibir em composição as facetas da
materialidade e da sociabilidade. Cidades antigas, cidades modernas, cidades do
futuro, cidades encantadas; o urbano é palco e cenário desse espetáculo de
imagem em movimento, som, luz e fala, mas é também objeto de uma reflexão que
põe a urbanidade com um centro de reflexão. A obra do homem, expressão máxima
da civilização, vai com ele perecer? (PESAVENTO, 2007,p.22)
A
técnica demonstrada neste momento do filme vai além da realidade urbana atual.
Há no imaginário coletivo a ideia de cidade do futuro, das possibilidades, da
correção dos espaços e do social, onde os atores urbanos representam um futuro
promissor, perfeito, organizado, democrático, com direitos e deveres bem
definidos. Mais que uma cidade utópica, uma cidade possível que reside em nosso
imaginário e nele é construído. Deve-se salvaguardar o delírio. E ter claro que
a cidade é uma criação humana, como escreve Pesavento:
As
cidades reais, concretas, visuais, tácteis, consumidas e usadas no dia-a-dia, corresponderam
outras tantas cidades imaginárias, a mostra que o urbano é bem a obra máxima do
homem, obra esta, que ele não cessa de reconstruir, pelo pensamento e pela
ação, criando outras tantas cidades, no pensamento e na ação, ao longo dos
séculos
(PESAVENTO, 2007,p.11)
São
essas tantas cidades mostradas no filme que agora Cuca percebe o espaço da
circulação em que o algodão vira tecido, é exportado, transforma em roupas,
volta para lojas, vitrines, propagandas, mostrando todo o processo de
circulação de matéria prima, transformação, produtos e comércio. Aquele menino rural passa a ter em seu
imaginário a compreensão da ideia de valor, poder, dominação. Tem ideia da
mercantilização das cidades, das pessoas, dos espaços, da criação, do sonho.
Não
que as cidades tenham uma hierarquia econômica, mas no filme fica claro a
diferença de poder econômico de uma cidade para com outra. Poder transformar,
acumular riqueza quer dizer modernizar, organizar melhor, ter melhores
técnicas, consequentemente, vida melhor, no sentido de mais conforto.
Tanto
que no retorno para casa eles passam em frente a um estádio onde se pratica um
esporte próximo do futebol mas não entram. Vão ver na TV. Ao passo que do lado
de fora do estádio também passam caminhões, transportando produtos. E, tudo no
entorno deles, é tratado como produto.
De
volta pra casa passam na praia onde a música ressoa, demonstrando a cultura
popular, como na sexta porta de Bresciani.,
Assim
como fica claro a quarta porta em que o sujeito se distancia do objeto. Também
a quinta em que burguesia confronta-se com o proletariado na fábrica de tecidos
e todo o processo de política, enfatiza-se na produtividade mecânica de
máquinas e promove a demissão coletiva de funcionários por desemprego
estrutural. E na sétima porta se vê uma cidade dividida em áreas subordinadas a
lógicas diversas. (BRESCIANI, 1991,p10-12)
Quando
o menino pensa ter encontrado seu pai, ao alcançar o trem, percebe que todos
são iguais, padronizados, foram forjados no modelo coercitivo imposto na
maneira de como quer que sejam. É a história se repetindo no modo de vida dos
trabalhadores. É a desilusão do pássaro negro que desmonta o sonho colorido que
Cuca carregou ao longo da vida. É a deterioração da esperança, é a realidade
amarga, a destruição do sonho simbolizada na morte do pássaro. No som que
escorre pelo bueiro. No silêncio da cidade que a tudo vê mas não alcança o
menino que também não alcança a cidade.
Ambos,
Cuca e seu amigo, vão parar em um lixão, onde a música assume um caráter
dramático, intimidador e a cidade segue seu curso, produzindo, buscando matéria
prima, produtos e dando continuidade ao seu processo produtivo, mercantil,
indiferente às angustias das personagens do filme. Como salienta Pericás, “Até
mesmo trechos de cenas reais, retiradas de filmes de cineastas como Jorge
Bodanzky, Orlando Senna e Leon Hirszman, entre fragmentos de outros
documentários que retratam a poluição e a devastação da natureza, são incluídos
na obra”. (PERICÁS, 2016).
Daí
por diante pergunta-se: O menino encontra o pai? Ele volta pra casa? Final de
filme não se conta.
Mais
que a chegada o que importa é a jornada empreendida pelo menino. Os efeitos
dessa jornada, as impressões sobre a cidade, o olhar. Os efeitos da cidade
sobre um menino que se tornou adulto na cidade e sofreu todos os efeitos que o
espaço urbano pode provocar.
O
filme possibilita múltiplos olhares, principalmente o olhar geográfico sobre
questões sociais e de técnica. Permite uma variações didático-pedagógicas para
se trabalhar educativamente nas mais diversas faixas etárias. Essa diversidade
é permitida pelas variações de imagem, múltiplas paisagens, e como diz
Cosgrove: “Ao mesmo tempo, paisagem lembra-nos que a geografia está em toda
parte, que é uma fonte constante de beleza e feiura, de acertos e erros, de
alegria e sofrimento, tanto quanto é de ganho e de perda” (COSGROVE, 1998
p.224). Neste aspecto o filme oferece abundante material para contemplação,
análise, aproveitamento didático-pedagógico, etc.
Conclusão:
O
filme de animação “O Menino e o Mundo” é um daqueles filmes que circula pelas
mais diversas artes, as gráficas, pintura, colagens, aquarelas, literatura,
poesia, arte popular, danças, artes plásticas, tudo, em um visual
interessantíssimo. Uma beleza de imagens em cada cena do filme, em cada
instante. Tudo mostrado numa leveza comprometida tanto com a arte quanto com as
realidades sociais, econômicas, políticas, culturais, sociais, e etc. Além de
ser delicioso e lindo é um filme que também faz pensar. E muito.
As
mais diversas paisagens circulam pelo filme, paisagens naturais, sociais,
paisagem técnicas, naturais e humanizadas... O espectador inicia sua viagem por
essas paisagens e vai alimentando suas percepções cognitivas, investigativas,
analíticas em busca das explicações, das informações, dos conhecimentos, das
críticas, interpretar as próprias emoções.
É
uma viagem dentro de outra viagem à medida que o menino sai em busca do pai, ou
de melhores condições de vida, numa jornada ao mesmo tempo emotiva e afetiva
vai-se, também, viajando nas imagens e no desenrolar da trama. Uma viagem
lírica, linda e forte, resistente.
Não
há tempo definido no filme. Nenhum tipo de tempo. Não há, também, local
definido, cidades imaginárias e cidades reais, tradicionais, como tantas que se
vê, que coexistem e até se relacionam.
Os
diálogos, no filme, são incompreensíveis, indefinidos. O peso do filme está na
imagem, no som ambiente, nas paisagens e nas ações dos personagens que são
múltiplos e um só ao mesmo tempo e no decorrer do filme. Os espectadores também
terão a sensação de que todos os personagens são um só. Assim como observamos
as cidades com suas populações, suas vidas e indagamos se todas aquelas pessoas
não seriam uma só. Os sons e músicas no filme são mais do que um ingrediente do
filme, é uma personagem também.
A
riqueza de detalhes como a colagem de sorrisos largos em cartazes de
propaganda, apresentadores de, inteligentemente colocados no filme é uma
constante. Riquezas de detalhes, esmero nos detalhes dão uma satisfação maior
ao filme.
Ao terminar a primeira sessão tem-se inúmeras
interrogações, dúvidas e inúmeros pensamentos. Tem-se também um convite a ver
novamente o filme. Novos pontos de vista das paisagens, dos detalhes, dos sons.
Como se em uma nova viagem a um mesmo lugar tivesse-se a sensação de nunca ter
estado ali, porque as sensações são novas e diferentes da anterior. Por isso a
ideia de uma viagem dentro de outra viagem, de caminhos dentro de outros caminhos,
de olhares dentro de outros olhares e dos caminhos e olhares que estão no filme
e do espectador sobre o filme.
O olhar de
assombro do menino sobre a cidade, o novo, o tão diferente do seu espaço
natural e rural, onde viveu os primeiros anos de vida. O entendimento da
técnica, da capacidade humana de construir, transformar, organizar, como também
destruir, submeter, eliminar dentro de uma compreensão mais global do que
local, fornece a dimensão da capacidade humana em lidar com a diversidade de
paradigmas, com paradoxos, contradições, materialidade e relações sociais, sonhos,
segregações, memórias, Técnicas, Identidades, sujeito e objeto, sentimentos,
perspectivas e possibilidades.
“O
Menino e o Mundo” tem essa dimensão das múltiplas possibilidades, como as
cidades, com seus espaços físicos, sociais, seus fluxos, seus tempos diversos, em
que passado, presente e futuro se encontram, seus conflitos, suas infinitas
possibilidades.
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