quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Escritos autorais, humanidades, pensamentos, sentimentos


A Flor-de-Lis é a representação de um lírio. É uma das quatro figuras mais populares do mundo. A Flor-de-lis é símbolo de poder, soberania, honra e lealdade, assim como de pureza de corpo e alma. Era também o nome da minha mãe – uma poeta da vida.

Este conjunto de escritos é um exercício de prazer, apenas. Como tudo deve ser. Foram compostos em momentos absurdos, do tipo reuniões, intervalos de aula, instantes de prova, devaneios, delírios e vagabundagem da alma que perambula pela humanidade. Própria e dos outros.



P a l a v r a s
 e m
C a r n e    v i v a

Só eu sei
O quanto te amo
E o tanto
Senti-nela.






No trafegar dos sonhos
Ando comendo uns versos
Para suportar os ratos
Passeando nas horas



=  ~  =


Para atender ao domo
Serve-se da delicadeza alheia


 =  ~  =

O que você chama de vida
É na verdade uma lacuna
Poderia emendar com loucura
Se não lhe faltasse
Uns versos


 =  ~  =


Pra juntar as partes
Quando você te encontrar
Posso ainda estar por aqui


  
 =  ~  =
  

Sei-me sem grande coisa alguma
Mas pra quem não tem nada
Bem que podemos fazer amor no impossível.
Tenho o mundo porque não tenho coisas


  
 =  ~  =



Se não fosse confuso
Se fosse mais simples
Seria menos história



 =  ~  =
  


Triste do meu amor
Tão frequente na cabeça e no coração
E tão ausente dos seios
Da bunda e da oceânica dela.
                 

  
 =  ~  =



Se é que te encontras
Não te vê
Menos te sentes
Existimos?
            Pelo menos te pensas?



 =  ~  =

Aonde vai o ar que sai da sua boca?
Aonde vai o perfume que sai de ti?
Aonde vai a voz?
Aonde vai teu desejo?
Aonde vai você que jamais veio?

  
 =  ~  =



O próximo passo
É marca-passo?
Em-saio


   
 =  ~  =

Não sei o que aconteceu no dia 16 de outubro de 1999
Nesta hora
Também não sei o que aconteceu no dia 16 de outubro de 2009
Nesta hora
Bem que poderia estar tropeçando nos teus tropeços
Nesta eterna hora.

  
 =  ~  =

O que queres de mim?
Eu mesmo não me tenho.


 =  ~  =
  
Rasgo a minha carne ao rasgar das minhas palavras
No entanto as joga ao vento que as espalha
Letras quebradas. Por aí
Quebra-cabeças, catar
Cacos, amórficos


  
 =  ~  =


Venho engolindo
tristezas
Engolindo nãos
Mastigando solidões
Venho engolindo negativas
Engolindo coisas de minha impotência
Quando você me pergunta sempre:
 - O que tens para me dar?
Talvez
Infinitas dentadas
Sem nunca ser engolida
Na sinfonia das horas



 =  ~  =

Em todo caminho que no meio do caminho tem uma pedra
Tem também um Carlos Drummond de Andrade

  
  
 =  ~  =



O teu amor não me quer presente
Quer-me em um futuro do pretérito
Perde-se amor.
Por não saber que o tempo é uma prece.


  
 =  ~  =
  



Triste perceber
Que o que nos basta é a ausência
Tenho quase tudo que não quero.

O meu amar
Foi fazer por mim tudo por você

E seu foi não fazer nem por você
                                       Ao me comprar certezas
Como se as tivesse.

Dar-lhe-ia todas
Almoçaríamos juntos
Ou deitaríamos na cama
Com lençóis de amanhecer
Sem colchas de retalhos.

  
 =  ~  =


Algumas lacunas exigem loucuras
Que se não preenchidas
Permanecem lacunas
Silenciosamente corrosivas



 =  ~  =
  

Não quero lhe ver triste
Quero quebrar o silêncio desse ruído


 =  ~  =

Não precisou mais chamar
Nem obedecer
Não lavou mais a roupa
Nem o esperou mais para o jantar
Não precisaria mais contar com a feira
Do salário que também não ultrapassava o bar
Não precisou ser flor
Nem Amélia
Nem avistou nenhuma investida
Livre, ficou em pé.
Observou o infinito oceano imaginário
Que lhe trazia paz
Tanta paz...
Um imenso vazio de possibilidades.

  
 =  ~  =
  


Tirar seu cabelo do rosto
Beijar sua boca
Profundamente
Lentamente
Línguas brincando
(.......................................)
Poder ficar com você
Ausentes de tempo                             
Ausentes de tudo
Nós dois e nossos corpos
Um para outro
Pensamentos ausentes
Sentindo, Gozando
Orgasmando
Minha boca mergulhada nos segredos
Mais íntimos e mais humanos,
Simplificando absurdos
Sêmen,
Ermo, lambuzados de pensamentos.
Deliciosos, poéticos.
Todos e tudo em nós dois.
Apenas o gozo de ser o gozo fará sentido,
Sentindo.



 =  ~  =

Nada me impede de te desejar
Como uma serpente em minha cama
Nada impede de te querer
Como a Rita em noites garrafais
Nada me impede de senti-la nua
Deslizando sobre meu corpo e sorrindo
Nada me impede de comer você
Nem você. Já o fiz tanto e de tantas formas.
Nada impede de te ver comendo

A sedução das minhas mãos.

 =  ~  =

Para quê iria querer algo?
Não tendo, resta-me o resto
E, posso ter o mundo
Nos olhos dela
Todo o corpo infinito
Para navegar...
 =  ~  =


Para quê iria querer algo?
Não tendo, resta-me o resto
E, posso ter o mundo
Nos olhos dela
Todo o corpo infinito
Para navegar...


 =  ~  =


Esquecer a culpa que no meu sentir não se ocupa.
Tenho culpas sem que me ocupe
Já se matou muito por nada
E, por saber, quero que me leve
Pra cama
Seja má
Afasta de mim este bom-moçismo
Assombração
Ata-me no meio de tuas pernas
Boca e boceta
Mais que uma perspectiva
Um reencarnar.



 =  ~  =



 Hoje é terça-feira, (23/11/2010) – chuva!
Nada mais há...
Se não fosse pensar em você
Seria perfeito
E se tivesse aqui comigo
Seriam todas as possibilidades.

 =  ~  =


Domo
Domo, doma
Domo, doma, domina
Domo, doma, domina, denomina
Domo, doma, domina
Domo, doma
Domo
A morte re-reeditada

 =  ~  =

A postura da mentira é a
Mesma postura da verdade
O humano é a postura.

Quem ama
Refaz-se virgem
Pra em cada coito
Purificar-se
Reiniciar
Redescobrir-se, virgem
Quem ama
Alimenta-se, reedita-se
Refaz-se refazendo
Feito curiosidade.


 =  ~  =


O amor é uma necessidade de a cada instante conquistar para outro instante conquistar outro instante e conquista outro instante e conquistar outro instante de forma que nenhum instante se repita em outro instante e em outro instante até se tornar um prato de comida que se come num instante em que o sabor do instante fora transformado no instante de suprir uma necessidade vital e por isso os instantes se tornam presas aprisionadas para serem usados no instante que se deseja e por isso os instantes vão se perdendo de outros instantes que se perdem de outros instantes e no final percebe-se que o maior instante sucumbiu no instante em que um simples instante deveria ser guardado para todo o infinito.  E, não se percebeu que aquele instante é instantaneamente instante, ou etéreo, ou eterno.


 =  ~  =


Os olhos veem
Um corpo contorcendo
Pode ser tortura
Pode ser orgasmo
Pode ser loucura
Pode ser um espasmo
Pode ser doçura
Pode ser escárnio
Pode ser serpente.

 =  ~  =

No momento
Não se troca
A mulher que se ama
Por qualquer outro
Momento




 =  ~  =


Calo
Diante de tanta erudição e sapiência
De palavras sábias professorais
Calo-me aos berros

 =  ~  =


 A minha moça
Acha
Que do passado se faz o moderno
Não sabe
Que o moderno é que refaz o passado
Não cabe
Coitada, trocou fazer pelo pensar...


 =  ~  =



Escrevi um poema
Era um papel ordinário
O poema também talvez fosse
Não o li
Apenas coloquei-o no bolso
Joguei-o no rio quando passava pela ponte
Joguei porque me lembrei dele bem em cima da ponte
Um poema que agora deve estar sentindo saudade de existir


 =  ~  =


O tráfego dos meus sonhos
É sua pele
Úmida, flexível
Rubra
Nela
Amada
Nela


 =  ~  =

  
Que belo horizonte
Tem aqui no encontro dos montes
Dos seios lindos imaginados
Banhado do vermelho do sol
Que belo horizonte tem lá
Ali tão perto das minhas fantasias
Nos lábios ao lado tão próximos
Tão desejáveis...
Que belo horizonte belo e próximo
Chegando, navegando no olhar
Que horizonte belo de amar
Mãos no horizonte dos dedos tocarem no horizonte
Faltou virar
Para ver o horizonte de lá
Do lado de cá
Outras montanhas nas ancas
De desejar
Bom! Belo Horizonte
Que trazes tão perto do nosso olhar
Um amar lá no infinito instante
De olhar tantos horizontes
Tão belos

Quase ao alcance do paladar




 =  ~  =


Antes mulher que vi em mim em 03/12/2010 – 11:50

                                                                 É a mesma que via sempre
É a mesma que amei quando vi de fato e amo de fato
Quando vi de ver e sentir e enxergar
E vendo e aprendendo em cada visão
Em cada palavra, em cada diálogo, nos momentos,
Conhecendo... Sentindo... Aprendendo...
Não sobre ela, mas com ela em mim
A mulher que vi misturada em mim.
Me fez sentir o mundo
Sinto o mundo todo em mim, complexo e completo
Infinito mundo,
Todo o resto é um nada
Nós dois apenas
Eu mais você mais eu
Que é muito mais mulher ao mandar-me ir
Dá-me um orgasmo a levar comigo. O sinto...
Ejaculando toda minha efervescência secular
A sinto no fechar e abrir dos olhos.
Sentindo-me em você e sentindo você em mim.  Sentido de existir.
Temo que meu corpo não permita mais que meus olhos se abram
  

 =  ~  =

Permanecemos no sol para que a noite não venha
E vamos esperar o sol da noite.
Este já basta. Este lugar também.
O mundo todo é isto aqui.
Morros, flores frágeis do campo, algazarra de meninos
Um grupo de mulheres mumificadas em poses convencionais
Tão previsíveis quanto um filme trash
Neste lugar toda palavra esbarra no silêncio.
As ditas, as camufladas, as ensaiadas e as por dizer
Algumas apenas

Hei de tocar-lhe com olhar
Tocar-te-ei com gosto e desejo
Que carrego alforje
Tocar-te-ei com chama aprisionada
Com os ossos fora do lugar, dor e um olhar sem saída.
Se quisesse teria fogo e afago de um deus
Todos. 
Ou, mais que todos.

E terás um enigma só pra você
Enquanto a escolha me destroça
Enquanto o que queres é sentir
Que alguém te ama feito palavras desenletradas.
Com os falares dilacerando silêncios
Com a chama presa num bornal acessível a você
Com os enigmas que não se desvendam
Enquanto todos os amores que têm para dar
Tornam-se alguns apenas
E as alternativas nos destroçam
Porque o que queremos é tudo
Ou mais que tudo
Corpos misturados a deriva. Sem escolhas.
Chamas, espasmos, gozo, cataclismos.
Submergir em um banho de saliva
11/12


 =  ~  =


 Ando passo a passo de destino sobrevivente
Não abaixo a cabeça e obedeço aos passos
Somente quando quero no asfalto estar, apesar do rumo

Abortei inúmeros amores. Tive alguns que
Também se perderam na brutalidade dos dias
Somente a dor teimava em eu estar
Eis a dor que não é parte do meu cântico dos cânticos
A dor que me percorre no asfalto dos passos
É onde deformado destilo, minha incompetência e impaciência.

Leio o mundo nos livros e ao saltar entre uma e outra palavra
Vou acumulando dores da indignação e do pasmo
A justiça, a sede, a verdade, oculto, tudo me congela

A pele suada das dores da ausência que dói pelo corpo de saudade
Num canto de espaço solitário sentindo a tortura apresentar-se
Tremendo o delírio dos pés que tenta varar este inferno

Dói. Sempre dói. Dor de cabeça. Dor no joelho. Dores de alma
Se fosse artífice das palavras como um poeta diria que dor é dar a luz a um verso
Mas a dor é real, vara a carne e a si mesma se criando no pão nosso de cada dia

E o pior da vida é que ela nunca fica nua. Então nada se sabe da dor além de sentir
Com delicadeza, determinação e apegos vão desbravando o vazio
Fazendo opção pelo mínimo tendo o mundo e se esgueirando pelos caminhos

Se fosse poeta escreveria para esquecer que perdi os dias. Emergir
Do ambíguo desejo alheio a vida se veste em trajes de festa
Dançando... Comendo o curso que o diabo amassou com o rabo

Às vezes penso no alto de uma montanha em que a vida pudesse se despir
Invento poses para enganar a dor no trânsito de sorrisos e olhares ocos
Ou tudo é bobagem e o sono sonha os mesmos sonhos de outono?

Quem me entende no momento é o esquecimento que foi dormir pra dor passar
Quando o sono passar...

 =  ~  =




Amor mudo
Ardendo de amor, as cigarras cantam:
Mais belos, porém são os pirilampos,
Cujo mudo amor lhes queima o corpo!
Canção dos camponeses do Japão

Viver é adorável
Sinto dores, ausência, prazeres, emoções.
Sou próspero por isso

Às vezes que perguntam o que sou
Encontro a resposta no amanhecer
Sou um afortunado por isso

Às vezes penso no que gostaria de querer
Não me ensinaram a querer além das pessoas
Sou um venturoso por isso

Às vezes quando alguém indaga sobre meus sonhos
Eles são silenciosos gestos frágeis
Sinto, sei rir e chorar e por isso rei e réu.

Às vezes quando me perguntam aonde vou
Digo que a ida é também chegada
Do ponto de vista da amada

Por isso que viver é uma efeméride
No morder na carne da fruta doce
Sei o paladar e por isso estou completo

E por último quando a noite me encerra
Percebo que passei o dia de portas abertas
E tudo transitou por mim

E quando aquela pessoa suspende do meu amor
Percebo que passei a vida de coração aberto
Para receber-te meu significado.

Definitivamente finalizando. Quando alguém deseja
Sinto um prazer adorável em atender
É banhando no amor que amamos.

Não se revisa. Nem se passa um verso a limpo
E tudo serpenteia, ou agarrando coisas ou descarando,
Emaranhando no teu cabelo, ou teu desejo me derramando

   
 =  ~  =

   Uma mão paga uma conta de luz
E outra quer pegar um lírio
Delírio: de amante virar espanto
De riso a pranto e de encanto a risco
E quem colhe o doce amor dos teus anos?
Vem me dar a boca e a língua
Vem trocar pecado
Vem pro seu nêgo, vem de qualquer lado

  
 =  ~  =



O que quero para tempo que virá
Se vier...
Que venha no cantar
Transformado na canção dos lábios dela
Contente no final da tarde
Nada novo de novo
Velhas canções de final feliz
Em que eu esteja ali, nos lábios dela.
O que quero pro tempo que virá
Se vier...
Que tudo seja permitido
Navegar no suor do corpo dela
Cavalgando no eu-bicho-indefinido
Arregalando versos de cristais
Espalhados nos lençóis
Provocando inquietudes de lilás.
Que no ano novo de novo
Paz, amor, saúde e dinheiro novamente
Mas, o que quero pro tempo que virá
Se vier...
Que os postes possam dançar nas avenidas
Uma pérola quadrada, uns absurdos
Uma mudança de comportamento
Uma festa no AP de uns vampiros gays
Sandálias rasteirinhas e uma canção nos lábios
Um campear por abril, versos de Jorge Luis Borges
E música de Vitor Ramil.
Sentir o som nas tardes diárias, com ela.
O que quero pro tempo que virá
Se vier...
Que ela queira absurdamente transgredir
Ultrapassar a faixa de chegada ao contrário
Aninhar no ventre do vento varrendo a miragem
Um leme de lâminas pra que tudo vá à deriva.


 =  ~  =

   Poensando I
Sabe qual a diferença entre uma coisa passageira e eterna?
Não?
É o desejo que cultiva o instantâneo a permanecer.
Isso é de uma simplicidade assustadora...
E sabe o que é o cultivar?
Não?
Amar as possibilidades
Isso é de uma complexidade simplória
Não somos nós que reconhecemos a eternidade
Ela se reconhece em nós
Complexos ou simples
Quando digo “Eu te amo”
Nada há de metafísico
Apenas um querer você comigo.

  
 =  ~  =

   Poensando II
Sabe qual a diferença entre desejar sentirsentir?
Um "eu" pelo caminho.
Brincadeira...
Não desejo sentir, mas sinto desejando.

  
 =  ~  =

   Se eu pudesse escolher...
Gostaria de ser a figurinha mais fácil do álbum.
Do lixo, canto de rua a uma gaveta de sonhos
Todos os lugares são todos os lugares.
                        Se pudesse escolher...
                        Escolheria um esperar por você
                        Arrumar a casa. Arrumar-me
                        Pensar umas frases bonitas para dizer.
Se pudesse receber um conselho... Ia querer:
Para não demorar a dar notícias pro meu amar
O vazio transforma a forma de sentir
Tanto aguarda quanto sofre, finda a fenda.
No vil colo da vileza.
Uma nobreza caótica afeita à covardia.
                        Se pudesse dizer...
                        Diria a todos:
Quem abandona também se abandona. Exclui-se
                        Do ponto de vista de quem avista o ponto
                        A saber...
                        O amor que nos tem é tão somente o que temos
                        É dele que se existe.
Algumas coisas eu posso escolher...
Então escolho as razões dos outros. Sempre.
Acho-as imprestáveis, mas gosto do apego deles
Apesar de nunca saber o que fazem com razões
Sempre a vejo na pauta do dia.
Por entre os quereres que sejamos e a identidade
Há um oceano de individualidades possíveis...
                        E se puderes escolher?
                        Que queres ser eu sendo também?
                        A figurinha mais difícil do álbum...?
                        Para tê-las há que se juntarem tantas
Se eu pudesse escolher...
Apenas quero amanhecer amanhã
Ver uma garrafa de vinho quase vazia
Uma mesa por arrumar, lençóis amassados
E saber que estivemos a estar ali.
                        Se eu pudesse escolher
                        Escolheria me preparar
                        Para receber você
Até que eu possa escolher...
Dizer-te o que um instante se cultiva eterno.
Não demores a dar notícias do teu amor
Enfermo... Tanto aguarda quanto finda
Mesmo sabendo que é o amor que me tem amando.
                        Se fosse me dado a escolher
                        Somente uma única coisa nesta vida
                        Escolheria não saber quem sou.
                        Saborosos os dias em que eu não lembrei existir.
        
  
 =  ~  =

 Poensando III:
Um dia meu irmão comentou comigo que jamais amaria. Faria opção pelas putas. Faria opção de “o prazer pelo prazer”.  Segundo ele não queria compromissos e menos ainda ser um estorvo para alguém... Faria opção pela tal liberdade e pela leveza da vida... Claro que isso teve o peso da ausência... , da solidão e tudo mais. Bem, se matou com suas opções.
            No meio da conversa disse que o amor traz algo de exercício de crueldade. Por entre deliciosas iguarias por vezes nos aparece um prato de sopa com arame farpado. Comemos sonhando com as iguarias que virão.  Às vezes elas não vêm e passamos a vida comendo os sonhos... Farpados.
            Acho, no amor, a crueldade uma forma de autoflagelo. E, mais, entre a farpa e a delícia, um "como vai você", um "oi", um "tudo bem" pode por uma mesa de amores fartos. Tudo ao alcance da emoção, da mão. Claro, com apetite.

 =  ~  =

   01/04/11

O meu amor
É o mais lindo amor do mundo
Porque é o meu amor
Porque é como sinto

A paisagem do meu recanto
É a mais formosa paisagem do mundo
Porque é a paisagem que vejo
Porque é como vejo

Isso não é uma pretensão
Se muito, uma sensação amorfa
Um jeito de se indignar
Entre a cólera e a coleira

Um tentar esticar os braços
E emergir você desse sistema
Que não se percebe imersa
Que não me percebo amorfo

Mastigamos nossos animais
Em salivas e molhos de esperanças
Nauseando Nietzsche, porque é como
Se deve amar, porque é como se deve ver

E toda explicação que se finge já entendida
De razões que se tem para não senti-las
Produzir um anedotário da própria vida
Uma piada ruim, mal ensaiada por um idiota

A mesma sengracisse de quem se vê sorrindo
Porque está sendo filmado. Vigiado. Todos vendo.
Filme bizarro. Do estar bem ao estar atônito
Ir dormir com uma ânsia de vômito. Molho de escarro.

Quer-me distante, desejo em corpo inefável
Paranóia, todos estão vendo-a, todos estão sabendo-a
Todos a vêem cuspindo pigarros de vida, insanos absurdos.
Atônito, tudo é nojo e vômito e insônia e silêncio e só

Estarei distante. Sabendo que a coisa “mais maior de grande”
É uma coisinha que nos arrepie a pele, contrai os músculos.
Sem isso a estátua é sóbria e brilhará.
Triunfante. Porém, inútil.


 =  ~  =

   
Fazer ou não fazer...
Eis a questão
Não faço
As questões permanecem
Faço
O mundo se refaz em questões.

 =  ~  =

   
Como nunca sabemos do mal e do bem
Melhor mesmo é ficar distante
Trago em mim algo de contramão
De uma direção que nem sei

   
 =  ~  =

   
 Palavras
Ouço-as, digo-as
Que diz que digo
Que digo e não sei
Engulo-as, engodos
Paradas na glote
Atribuídas
O além delas estou.
  
 =  ~  =

    “De tudo fica um pouco”
Drummond tinha razão
Tudo anda indo e deixando um pouco
Cada vez mais Pouco
E, pouco a pouco vai distanciando.



 =  ~  =

    
Se não for para ver além do tamanho
O ver se repete na retina
Tão repete que nem se atina
Que não se enxerga mais.

Se não for para ser humano
Não vale a força desprendida
Tão repete nas coisas dessa vida
Que nem se sente mais

Se for para sentir
Como quem apenas sente
Tão repete os sentidos
Que sequer se sente sentido

Se for para gritar
E dele se fazer silêncio
Tão repete os sons
Que jamais se desafina

Se for para virar de lado
Sem que se sinta o gozo
Tão repete o gosto do desejo
Que o desgosto esgota

E se te cansas disso ou daquilo
Sem que se perceba ancho
Tão repete o fardo
Que estais a moldurar o quadro

Se for para sentir
O que realmente quer
Então entregue teus quereres
Na dorna da ereção.

  
 =  ~  =

   
Sua consciência vem do pior
De onde você não vê
Não percebe
Não sente
Serve
Inocentemente
Sorvida

   
 =  ~  =

   Tanta falta de nexo
Ainda bem que o amor é acrítico
Ainda bem para o sexo



 =  ~  =

    
A verdade e a mentira
Têm a mesma medida
O mesmo valor
Consequências parecidas
A verdade e a mentira
São tentáculos tentando alcançar
A tentativa é o sentido.

Quando não há o que fazer
Tudo está feito
Se quem espera nunca alcança, ou
Quem espera sempre alcança
Qual, então, é o alcance da espera?
O que se busca enquanto aguarda
É talvez o levantar da burca sem um rosto
O desnudar sem ter um corpo
Nada dentro
Nada mesmo
Nada a mais
Nem cais, ais, nem água a deslizar na pele
Um parêntese a deriva numa vida real
Que estacionou suas sensações numa possibilidade

Andei a me deixar aprisionar
Fiz-me cativo de sua procura
Procuras em mim algo de ti, algo entre as pernas
Algo entre uma pergunta imbecil e
Uma decisão insana
E tudo se desconstrói na espera
Nada dentro
Nada mesmo
Nada a mais

Mas os dias perduram e transcorrem
Entre batalhas na mochila sobre as costas
O peso e o deslizar no tempo fere aos ombros
E tudo se estaciona aguardando...
Aguardando... Aguardando...
Um hiato pendurado no varal da tua vida real

De tanta ausência, cativo, me fiz livre
Nada tens, porque não és
Nada dá, porque nada tens
Nada dentro da caixa de correios
Nada a ermo percebe sua existência
Nem o telefone toca, nem a sombra
Até a lembrança esperando espera
Um canto para deitar o sentimento
Nada a mais... Nada a mais...

De tanto procurar em todos os lugares
O amor se faz cansado. Procurando...
Procurando...
Dentro do mar
Nado a ermo
Nado mais... mais... mais...
E quanto mais se busca mais se atrofia
No revés da profilaxia
Enquanto olho você, minha estrela, meus dias
Querer você
Virou uma tela a derramar novelas
No meu enxergar passivo na frente da TV.
Sem te ver
Sem te ler
Sem te ouvir
Sem sentir
Meu Deus, o que chamei de amor
Virou uma indústria de palavras de plástico
O original foi reengenheirado e produzido em série
Nem houve mais sorrisos fartos, nenhum sorriso
Os meninos trocaram o brincar por executivos postados
A brincadeira por um negócio burocrático
Tudo ficou mais triste
Nas lembranças compostas por palavras
Sintéticas.
Acho que não - reaproveitáveis.
Todo não há,
Nada há


 =  ~  =

    Seus beijos
Quando não os sinto
Sinto a falta deles...
E quando os sinto
Ainda mais os quero
É que a sua boca
Faz-me infinito



 =  ~  =
    
De tanto ter esperanças
A vida me mostrou
Que não as tenho
Ha braços
Sonhos


 =  ~  =

  
Não navego em esperanças
E apesar de não,
Sou um otimista
Olho o mundo e me abro a ele
Conheço e reconheço minhas derrotas
Sei do pão que me falta e
Sei deste estado de espírito classe-média
Rondando minhas atitudes
Sendo grão sou parte da montanha
Sendo areia componho o mundo
E se quiser eu sei querer
E não querer se não quiser
Sou forte e percebo os ares
Inspiro-os e assopro
Envolve-me e transpasso-os
Não sei a ciência
Tenho meus assombros
E nem penso como muitos
Sou café de roça, amargo.
Ainda assim café
Sei saborear a vida e não empunho grilhões
Sei do grão, do germinar,
Do prazer, do gozar,
Do florescer, dos frutos,
Sei querer quando me quer
Sei não ter sem importar
Não sei a ida, mas a volta eu acho
Se assim o desejar
Tudo é composição
Do poema tosco ao bocejar de Deus
Nem há o que esperar
O que queres te aguarda
Se for para pegar
Senão,
Não!
Quem não sonha com a chegada
Aproveita mais do caminho
Meu rumo a ermo é meu sentido
Pode ser um beijo na mulher amada
Uma conversa, um tocar, um olhar
Bem no alcance do desejo,
Esse anseio, esse gosto, essa vontade
De se encantar
Se achar perde e se perderes achas.
Essa é a graça.


 =  ~  =

  No dia que desejar sonhar
Mande-me umas pétalas de rosas
Um lençol de linho bem branco
E vamos derramar nossas delicadezas

No dia que desejar amar na carne
Traga-me seu corpo de petúnias
Doces, vermelhas, imergentes
E vamos cear nossos corpos

No dia que trouxeres seus fantasmas
Medos, turbulências e tempestades
Do consorte, da perda, dos outros
Vamos recolher as velas, em silêncio.

Espreitaremos o tempo em vigília
A pequenez que o trouxe que o enleve
Não tenho o que dizer menos que fazer
Senão catar sementes de begônias

E, se um dia, trouxer o seu desejo
Venha só com ele. Entre lençóis,
Pétalas de rosas, petúnias, içar velas
Navegar, navegar, navegar, amar...

 =  ~  =

Eu canto

Enquanto encanto existe
E como Cecília
Nem alegre, nem triste. Poeta?
- Bicho!

Encanto
Enquanto cantar resiste
Como epigrama
Nem duro, nem brando. Pétalas

Nem longe, nem perto. Pegadas
Nem tudo, nem nada
Menos entender
Ater

A Tez

 =  ~  =

A aspereza dos dias
Não me dá oportunidades de esperanças
Reconheço-me na lida.


 =  ~  =

 Ela quer uma narrativa
Não a tenho
Uma personagem
Que não sou
E minha boa história começa com um ponto final
Ou no máximo:
Um papelzinho marcando um encontro
Uma receita de cozinha
Um endereço qualquer
Um rascunho


 =  ~  =


Salinas V
Região de Barreiro Branco
Pai Pedro (9 – 17/07/11)



9
O sol
O sal
O pó
Uma paisagem hora bege, ora cinza
Um olhar que arde
O sol
O sal
Um pensar no meu amar
Um me despir
 10
O sol
O sol
O sol
O sal
O pó
O pó
Uma estrada, longa, de sol
Um pensar pra sentir
Um sentir sem pensar
Despido e debulhado
Meu amor, onde está?
 11
O sol
O pó, poeira, areia, sol
O pó-sol, poeira-sol, areia-sol, sol-sal
Todos os poros aquecidos de sol
De acolhidas
De humanidades
Há dias que nem vejo uma nuvem
Tudo se arregala e expande
Tudo tão aberto
Gostaria de ter você aqui
Nesta imensidão toda
Desfrutar dessa grandeza quente
 12
O sol
Brilho-sol-arde-brilha-sol-arde-brilho de sol arde e brilha o sol
Banho de rio. Bom!
Vejo você refletida nas águas do rio
Passas com a correnteza
Que deságuam no meu sentir
Pura ilusão de ótica, não há correnteza.
Nem você passa.
Tudo fica ao largo da paisagem
De uma memória ardendo
 13
O sol
Tudo aqui é extremo
O que é pobre – Miséria!
O que é rico – se farta
O sol é muito, a vida pouca, o tempo insignificante
O infinito realmente é infinito
As histórias dos humanos se pulverizam ou se ajuntam
Ninguém se importa muito
Rico e pobre aqui se encontram nos extremos
Não sei identificar o que é rico ou pobre aqui.
Não percebi os extremos entre os infinitos
Desejei sentir sua carne, seu seus lábios todos
Ri porque imaginei aonde poderia ser:
No sol, no pó, na imensidão do espaço
No realmente infinito
 14
A lua
Aqui é grande e perto
Acho que a alcançaria em um salto mais afoito
Daria-te se estivesses aqui
As estrelas... tem mais em uma noite, mais que jamais vi em toda a
minha vida.
O mato não é mato
É uma caricatura feita a nanquim
Tudo seco, seco, pó e sol. Tanto.
Aqui não sei o que sou
Lembro-me de você e penso que vou me encontrar no caminho de volta
Vou me levar pra você
Nunca a limpo, sempre a rascunho
Escrevendo nem sei por quê
 15
Minhas pernas doem
Meus olhos ardem
Minha pele ressecada quebra e risca
Não olho adiante, olho os pés
Colírios, hidratantes, cremes
Produtos da idiotia urbana que não me servem, inúteis.
Quando levanto os olhos
Quando se consegue,
Vejo a estrada ao longe
Muito longe
E o sol
E o pó
E o sal
Poder te imaginar no final
Levando-me pra você
É o que há de lirismo
Que aqui quase não há
Só os raros momentos no entorno do fogão a lenha
Um olhar que percorre entre o ver e se perder
Na imensidão infinita das veredas, por vir.
 16
O sol
Pequenas e insignificantes nuvens borram o céu
O sol, o sal, o pó
Tudo na paisagem é tortuoso
Não há figuras
Nada tem formas
Da janela um galho seco de uma árvore seca de um sol e sal
Constantes.
Pés de espinhos
Espinho nos pés
Dores
Internas e externas
 17
Andar
Sob o sol
Sobre o sal
O que passou é o mesmo que se vê na frente
Uma estrada, poeira, sal e sol
Um entorno seco
Uma imensidão velando a própria imensidão
Para qualquer lado é qualquer lado
O rio “Salinas-véia” não sabe se vai ou vem.
O vento ruma, rema em único remo
Fica em círculos
Causos, casas e bocas embaralhadas.
Coisas ocas das horas que se deslizam ociosamente imperceptíveis.
Preciso me reencontrar o tanto de compatibilizar meus sentimentos
Preciso de alguém que me devolva o remo
Para que possa me perder e reencontrar minhas solturas
Achar uma sombra, uma noite sem lua, construir meus labirintos.
Aqui
Todos os dias são dias intensos, de sol
Todos os dias
E nos dias de mais dias
Em que o futuro são os mesmos dias
O útero fecunda o claro
Que dá luz a luz do dia.
Despido e só
Sento na imensidão
Aguardando eu me buscar
Pras veredas dos meus desarranjos
Porque aqui os dias são iguais
E só o que toca minh’alma
Vem de ti, feito labareda
Emaranhando-me os dias, os desejos
Que em teu corpo desenredo
Esparramado no infinito.

 =  ~  =

Escravidão espontânea
Comprometida
Da menina - Débora
Que liga
Liga
Do celular que anuncia
Evita surpresas
A alguém que do outro lado
Não atende
Não entende
Não a tende

 =  ~  =

O amor...
O amor é desalinho que se aninha
Fertilizar os sonhos, fecundar a vida.
Desqualificar o sábio, o ávido
Reinterpretar o dia ao anoitecer

O amor é desatino de um olhar
Um não ver sentindo de tocar
Um revés da planta à semente
Flutuar em ser a lucidez e o demente

Qualquer gesto seu diz mais que sim
Mas o intenso silêncio diz não
Vou? Fico? - Se o segredo cantar?

Então amar é qualquer coisa assim
Que me embala feito a um grão
E pensar em ti é me germinar


 =  ~  =




Recebi um e-mail-mensagem que
Diz que podemos ser o que quiser... Será?

Queria ser só um caminho...
Não é o espaço. Menos é pela jornada

É a inocência estética

Das mãos dadas

Silenciosas
Licenciosas

Algo de... Sentimentos
Meiguice entre os dedos

Pegadas de carinho
No caminho do caminhar

Nessa estrada, o Infinito
Sempre vem ao nosso encanto

Meus olhos singelos vêem você
Caminhando sobre o amar.


Para um retorno à brutalidade dos dias...
Há que se ter um pouquinho de poesia
Ou de loucura... 


 =  ~  =

  
Creio em minhas lágrimas
Porque liberta a dimensão exata
Das minhas emoções

Creio no pranto de Deus
Porque ilustra a extensão estática
Da criação Dele

Creio em seu choro silencioso
E dele sou a superfície
Derramada e só

Creio no choro de todas as mães
E delas sou filho e parto
Da luz ausente

Creio no choro dos filhos e, muito
Mais que creio, ofertório
Sei-o que não está

Creio no choro de todos os amantes
Solitários e tanto
Folhas e vento

Creio no choro rítmico dos poetas
No seu canto e dor
“Que deveras sente”

Creio no choro da moça triste e chorosa.
Vertida em orvalhados olhos
Arregalado leito

Creio em meu choro esculpido em aço
Verdade, vítima e motivador
Ferido, vencido e vencedor

Creio mais e com mais ardor 
no choro do amor
Amor de amar secretamente
Dor maior de não poder sentir.


  
 =  ~  =


Não é possível fechar a alma como quem fecha os olhos
E não sentir como não querer ver
Nem virar e fingir que não acontece
Nem dizer que não existe
Nada disto é metafísico
É tão real
Que esta vida tão pesada,
Tão pesada
Flutua pela brisa
Flutua pela brisa
Alcança coisa alguma
Em um instante fugaz


 =  ~  =



Minhas opções são claras:
Amanhecendo
Viver
Vivendo
Emoções
Prazer
Amanhecer
Um luxo.

Entre nós uma roupa
Uns medos
Uma vontade de ver meu rosto
Entre as suas coxas
Sentir sua mão pegando minha mão
E pousar no seu corpo
Se permitindo

Amanhecendo, sem nada mais por vir.
Acontecendo




 =  ~  =


 O que há para entender?
Mais uma morte
No colo de uma mãe
Da morte entendem-se como todas
Morte é morte e nada mais.
Da mãe o drama percorria minha retina
Dilacerava a alma em cada instante,
Queimava minha veia em ácidos
Bombeado para um cérebro de
Pensamentos desesperados e só.
Naquele instante, dinheiro, papeis para preencher,
Datas, nomes, endereços, coisas que violentavam,
Conseguir um carro para transportar uma mãe
Um dinheiro para um lanche, um lugar para
Tomar um banho. Tanta violência...
Instante de pouco caso da saúde pública,
Do profissional insensível, do custo.
Da falta de alguém que diga eu faço
Eu também me preocupo, compartilho
Não conseguia entender como a mãe
Também não falecia junto à filha.
Não entendo uma criança doente de câncer
Com morte em hora marcada.
O que eu estava fazendo naquele instante
Em que acompanhava todo o processo.
Detestando, mas pedindo, clamando
Por socorro, por dinheiro, por milagres, migalhas.
Por amor, compaixão, solidariedade.
Pedir a quem? Quanto não é muito.
Quanta dor, quantos, onde...
Uma cerveja pelo amor de Deus
Preciso ouvir alguém falar de carro
Falar de coisas, de viagem, de roupa.
De um programa de TV. uns sapatos novos
Algo que me retome para a pequenez da vida
Para a insignificância do ter.
Façam-me crer que a vida é isso aí:
Uma escolha entre coisas e gentes.


 =  ~  =
  

Recebi o seguinte recado:   
Se vc lesse as coisas com sequência,
entenderia melhor.
Resposta:
  Se eu lesse assim...Ou se lesse assado...
Um laudo, um perito, um especialista.
Technicist - demasiado antropotécnico
Não é para eu que não sei ler
Poderia ler uma flor
Se ela se fizesse lida
Adoraria...
Poderia ler uma emoção
A leria com a alma e corpo
Interpretaria as sensações
Poderia...
Espontaneamente ser o texto
Se o contexto assim quisesse.
Como a arte que é arte naquilo que se cria.
Uma pedra que se torna estátua
Uma palavra infinita
Leria tudo... Ternamente.
Mais, muito mais: Seria a história.
O que quiser... 



 =  ~  =


Estou sentindo falta de seus poemas.
Eles me acalmam(...)
Eles também sentem falta de você
E sentem falta deles mesmos.
Gostaria que fossem meus
Como na ilusão dos filhos
Assim poderia ofertá-los
Ou usá-los como terapia
Não!
São tão infantilmente verdadeiros
Que por si só voam
Escapam entre os dedos
Desgarrados se constroem
Nos desarranjos de si mesmo.
Próprio. Desapropria-se.


 =  ~  =





 =  ~  =


 ascemos tão espontâneos
E adquirimos educações.
Sapientes e cumulativos
Encontramo-nos
Numa inequação qualquer
Cujo valor de “x”
Nada significa


 =  ~  =


E quando apalpa coisas indefiníveis
Procurando sentido em algo que encontre
Algo que tenha uma relação com sua vida
Nada encontra entre o pensamento e o toque

Sente vontade de dar sentindo as ações
Reza, deseja, compete, perde-se, pede.
Sem mais intuições, prostitui-se feito santa
E, do nascimento a morte está no meio. Dói

As cores do mundo não são vistas como cores
Sons cinza e percepções estreitas repetitivas
De um corpo que não dança e não se entrega
E não canta, não sente, não se derrama no gozo.

Feito cadela lambendo o próprio rabo reza a santa
Que não se perturba na mesmice da oração repetida
Tudo tão palpável e arregalado na retina dos olhos
Que ver é só uma ação reproduzida e de novo nada

Um corpo arde e pede por prazer e quer ser mastigado.
E quer se desmanchar e se misturar no esperma
Ser o gozo a cena entre as pernas, calor, luta de corpos.

E grita entre sons de máquinas e silêncio, espasmos.
Berro gemido dos poros que refluíam prazeres reprimidos
E livres a abanar os braços e o voo entre colinas e planícies.

Nada mais além de um orgasmo sentido, ainda entregue.
Marcas vermelhas de luta e sexo, olhos vagando nas delícias.
Vermelhidão, espermas deliciavam a pele e o gozo acontecido.

Sem saber qual hora do dia, dentro dela amanheciam indecências.
Uma desordem de sentimentos e sentidos e sacanagens boas
Virou-se de lado. Marcas em sua bunda denunciavam o amor

O corpo na cama. A alma saiu para olhar os navios. Contemplando
Todo mar de pureza onde os náufragos se divertiam nas perdas.
Todo mar de amor onde os perdidos se ancoravam em algodões. 


 =  ~  =


Lá está o menino
Menino bem menino
Tão inocente
Entre gritos de anarquia do recreio
Da visita na Associação de Pais
Dos excepcionais

O menino
Tão menino
Corre e me abraça
Com tamanha afetividade
Que pude sentir o hálito da vida
No beijo enviado por Deus.


 =  ~  =

Amei você
E ainda a trago em meu pensar
Amei
Com um amor que jamais existiu
E trago em mim
Teu retrato de cores cintilantes
E aura perfumada
E vez por outra
(Já não sou tão moço)
Mistura-se na cachaça
Nos delírios
Desvario
Do que foi
Sem ter sido
Um anoitecer
Sem ter amanhecido
Um desatino, uma comiseração.
Ao amor
Que não se fez eucaristia
Nem corpo, nem sangue.


 =  ~  =

Profanei
O último sagrado
Foi o primeiro segredo
Descoberto nos teus beijos





 =  ~  =

E ele rezou...
Tanta fé
Tão suavemente
Brandamente
Delicadamente
Tão musicalmente
Que Deus e todos os santos
Adormeceram em paz.



 =  ~  =
   
Acho que foi Brecht
Que disse mais ou menos assim:
"Vocês que nos usam
Feito sustentáculos
Penseis também
Do que tens escapado".

Meu amor,
Penseis!


 =  ~  =


 Leve-me
Use-me
Abuse-me
Rasgue-me
Violente-me
Deflore-me
Coma-me
E se algo sobrar de mim
Não me devolva.


 =  ~  =

Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais...   . Agora chega moça, eu não aguento mais.


 =  ~  =


Um tempinho pra nada
Um pensamento de relance
Fumo um cigarro
Mergulho entre palavras
E te escrevo no desejo
Da página que é vermelha


 =  ~  =
Logo eu que ainda molhado de líquido uterino
Um rebento
Nascendo diariamente
Para não ter que cumprir
A missão do desejado.

 =  ~  =

 Palavras em carne e osso
Palavras escrita em corpo
Lidas nos ocos e assombros
Lidas pelos desejos, lascívia.

Palavras em carne viva
Escritas com luxúria e escárnio
Tão pura quanto fecal
Tão fresca quanto menstrual

Palavras em desassossego
Em estado cru. Tão Flexíveis
Quanto a um cú. Que em si
Reconhece a lágrima.

Disformes, incompreensíveis
Excrementícios. Cousa alguma
Um gemido descarnado
Em que se conta uma saga


 =  ~  =
  

Um vôo além do óbvio
Assentados em porquês
Uma receita por fazer
De um passadio inequívoco

Come-se dúvida entre dádivas
E no amor das coxas bebe-se
Etílicos delírios e rumos hipotéticos
Crava-se gozo nos lábios tatuados

E na pele cromada e moldada
Na fôrma a forma desejada
Fomenta o fermento do desejo
E a semente dilui no sêmen

Tragamos um ao outro devorado
Quanto mais comidos mais nutridos
Mais famintos nos entregamos
Moto-contínuo na roda-viva da vida

Presos, nos libertamos na volúpia.
Velozes ganhamos espaço sem fim
Entregues e plenos um do outro
Tudo tão nosso no plural da carne

Nenhum pecado, nenhuma vergonha.
Nada por sofrer, nem timidez.
Nem ignomínia e jamais infâmia
Apenas nós e tudo por fazer.

  
 =  ~  =


Buenos Aires tem fome
No Rua Caminito, no Boca
Fome de liberdade
Em San Martín, em Che
Nas mulheres da Plaza de Mayo
Nos palácios, museus, obelisco.
Nos passos de tango de plástico, capitalizados.
Buenos Aires tem fome de si
Tem certa fome de Europa que também tem fome de si
Fome no Café Tortoni
Teatro Colón, Puerto Madero
Fome de Jorge Luis Borges
De seus versos e prosas
Dieguito e Eva tem fome em Buenos Aires
Uma fome insaciavel de Buenos Aires.

A Buenos Aires é uma loira divertida e que por ser loira se enverga linda e mente pra si
É uma erga-se que só se vê quem olha pra cima
A Buenos Aires é múltipla farsa entre a Europa/América e a cama
É quem é Buenos Aires sedenta, faminta, mascando-se
A Buenos Aires ... fome...
Acometida pelo vírus globarium uniformizarium e se tornou igual a Pequim, Rio, Istambul, Reykjavík, Paris, Barcelona. Em Buenos Aires se não fosse um estar com alguém, beijos e amor, não seria nada além de uma fome de Buenos Aires.
Coadjuvante.

Os bons ares
De Buenos Aires
Vieram de estar
Vieram de ti


 =  ~  =
  
Nem sei do que fala
O livro que te dei
Só queria que soubesse
Que eu estava distante
Sabendo-me presente
Vendo-te angustiada
Quis libertar sua alma
E afagar a minha
Pois, eu te amo.
E se você está triste
O mundo fica sem poesia




 =  ~  =
 
Semeadura
No chão as sementes se lançam em arcos
E a vida aconteceu e tudo acontece
Brotos brotam rompendo o espaço
Lentamente feito um cantar romântico
A vida vai acontecendo:
                        As formas surgem e nada é feito e tudo acontece
                        E esse acontecer dói aos olhos reticentes
Não há nada pra se fazer. Não!
Tudo vai...
Todas as coisas vão por aí se coisificando e
Não podemos fazer nada
Não há nada pra se fazer. Não!
                        Aos humanos foi dado o amar
                        O que mais há?
                        Coisas a cuidar?
                                   - Tudo vai acontecer
                        Coisas a ganhar?
                                   - Tudo vai...
Nem há por que se espantar porque vai amanhecer
Anoitecer... Amanhecer... Anoitecer... Amanhecer
Nada poderá ser feito por ninguém que mude isso
Então eu vou amar meu amor
Ouvir um amigo. Apenas ouvir
Ele chega e ficamos em silêncio
Ficarei em silencio também com meu amor
Abraçados nos entendendo em silêncio
Sem perguntas...
Andar por aí
Brincar com uma criança e rir um pouco
                        Tudo vai independente do que aprendemos
                        Acontece... Sabem-se ou não
As sementes se lançam livres, se constituem, dão forma.
As formas surgem e nada é feito e tudo acontece
Inclusive o amor que estava ali para amar
Foi brotando... Amanhecendo... Anoitecendo... Acontecendo
Amanhecendo novamente
                        Só não serei servido por aí.
                        

 =  ~  =


Às vezes me pego colhido com os lábios numa foto digital e
Vou dormir com suas cores de labirinto que me desejam

O sono embala a saudade de aguardar o amanhecer para
O beijo que me espera.

Não sei das pessoas
Não sei do medo
Não sei dos riscos
De outra coisa qualquer
Não sei

Não sei do tempo que fui ao tempo que foi nem dos lugares que estive
A porta se abre, o sol brilha e um beijo me espera.

Toda teia de palavras e todos os versos que foram ensaiados
Podem ser jogados na brisa após refazer-te-me feliz

O beijo que te espera é o que me amanhece-amanhecido
E nem preciso mais ser poeta pra falar pro meu amor

Não sei das palavras que ensaiei.

Os meus beijos que te esperam já sabem dizer “eu te amo”
Os beijos que se esperam sabem dizer “AMOR”

Refaze-nos,
Amando.


 =  ~  =


Nada mais doído
Quando tudo em nós quer cantar
E só o silêncio fica.
O grito mudo.


 =  ~  =

Meu grito
Tu ocultas
Meu desejo
Tu ocultas
Meu querer
Tu ocultas
Meu imaginar mais torpe
Das noites ocultas
Em ti ocultas
Meus mais íntimos
Ocultos.


 =  ~  =



Há confidência por traz do fato
Que fica ansioso ensaiando
Outros chegares


 =  ~  =


Acredita tanto em tudo
Que nada faz diferença
Deixa-te cair, apenas. 


 =  ~  =

O que há de vir amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã  amanhã amanhã amanhã  amanhã amanhã  amanhã  amanhã amanhã  amanhã  amanhã  amanhã amanhã amanhã 


 =  ~  =
Meu nome
Nos teus lábios
Foi uma inesperada canção
Um desmanchamento no teu hálito
Inspirado, uma ternura
Uma revoada de sons.

 =  ~  =
O teu amor se omite
Perde-se
Procurando-me
Entre pernas.


 =  ~  =

No funeral
O morto teima em ficar
Entre instantes ele sorri
Noutro instante silêncio
Noutro oculta
Depois respira
Volta a morrer
Cismado
Ando cansado de velar
A morte que não se deixa ir

 =  ~  =


Aproximo do véu que cobre sua face
Perto. Sinto um perfume que te disfarça
Uma pose de agradecer desgraças como
Se delícias fossem.
Uma pose sem corpo
Uma caridade para as carências
Decifram-te, teus oráculos, esfinges.
Uma monja.
Ridicularizo-me entre
Burlescas cores da aquarela
Bufo
Nada disso
Nada daquilo
Nada dela
Entre tantos tons
Nada De ver.

 =  ~  =

De tanto haver ausências
Senti-la distantemente
Volto a sorrir
Quando os pilares alvos
Que sustentam este sorriso claro
Gratuito, oferecendo-se a mim.
Maria Clara
Teu nome é ofertório
Que vem preencher o meu ser
Amanhecendo o dia
Que se cansou de anoitecer

Se pelo menos parasse de usar este perfume
Que te disfarça em quem você é
Talvez meus dias permanecessem morenos.


 =  ~  =

Entre todos os rótulos
Dimensionais
Tridimensionais
Polidimensionais
Que teus olhos me encaixilham e
Constroem estruturas sólidas
Sobre meu ser que não se sabe.

Algo passa sem que perceba
- Ele é um animal que ama
E me tem muita ternura
Poderia pensar isso simplesmente
Nada mais é...
Se até os carros são flex.


 =  ~  =
 Deitam-se flores no deserto
Numa teimosia inútil
Feito canções inaudíveis
Compostas para si mesmo

Até as flores de plástico
Vão perdendo suas cores
Perdem?
Nem as flores e nem nada as tem
As cores existem só porque existem.
Em um mundo que se faz colorido.



 =  ~  =


Quando tudo parece certo
Vem a natureza
A me construir os teus segredos.


 =  ~  =

Se não vai caminhar
Sai da estrada
Se não vai trabalhar
Entrega o boné
Se não vai assumir
Da no pé
Se não vai dar
Larga do pau
Se não vai comer
Não pega o prato
Se não vai sair
Arruma a cama
Se não vai dançar
Libera a dama
Se não vai morder
Nem começa a latir
Se não vai dormir
Levanta daí
Se for para fazer
Que seja agora
Se for pra morder
Arregaça a carne
Se não é pra viver
Que fique em casa
Se não vai fazer nada
Não conta o tempo
E se não vai contar
Nem queira saber
E se não vai beber
Não pega o copo
Se não vai pra gandaia
Não pega a noite
Que o dia não vem
E se não vai se perder
Não escolha o caminho
E se vai transcender
Não explique a piada
E se é pra amar
Só dando risada
Pra fazer equação
“vamo se embora joão”
Pra levar a sério
Diz que fui por aí
E quando for pra explicar...
Não sei.

 =  ~  =

O prazer que te alcança
É o instante que te escapa
O amor que  sentes
É o sentir que te foges
O desejo que te invade
É o prazer que evade
O corpo que em ti ancora
É o que deixas à deriva
Nos lábios que te aporta
É o sabor que deporta
A nudez que te obtém
É o sentir que obstem
O tempo que te busca
É o que deixas ir
A avidez que em ti acende
É o calor que apagas
A beleza em ti refugiada
É a alegria refugada
O quando vou
É quando vai
Sou o que és, negando-me.



 =  ~  =


Não tenho nada no olhar
Mas tenho o olhar
E apesar de saber dizer
Não tenho nada a ouvir
E sabendo como amar
Não tenho o que querer
E aonde quer que eu vá
Não saio do meu lugar
Do que eu for me lembrar
Sem saber minutar
De todo seu movimentar
É a inércia a inventariar
Um acontecer a preterir
Até
D  e  s  a  c  o  n  t  e  c  e  r.



 =  ~  =



Amor, eu disse quando?
Disse quanto?
Eu nem disse
Da janela espreito
A fenda estreita
De jasmins bucólicos
Nascendo dos imbróglios
Dos passos que te seguem
Dos meus olhos.
Por volta da meia noite
Repousam no vazio
De uma canção
D  e  t  e  r  i  o  r  a  d  a.



 =  ~  =



Com o que gostas
                                   Em gotas
Com o que contas
                                   Encantas
Com o que sentes
                                   Experimentas
Com o que vens
                                   Derivas
Com o que amas
                                   Sonhas
Com o que desejas
                                   Estimulas
Com o que existas
                                   Gotejas
Com o que pecas
                                   Encontras
Com o que conjugas
                                   Buscas



 =  ~  =

A  l  e  a  t  o  r  i  a  m  e  n  t  e
D  e  s  a  c  o  n  t  e  c  e  r.
D  e  t  e  r  i  o  r  a  d  a.
A  l  e  a  t  o  r  i  a  m  e  n  t  e
D  e  t  e  r  i  o  r  a  d  a.
D  e  s  a  c  o  n  t  e  c  e  r.
D  e  s  a  c  o  n  t  e  c  e  r.
D  e  t  e  r  i  o  r  a  d  a.
A  l  e  a  t  o  r  i  a  m  e  n  t  e
D  e  t  e  r  i  o  r  a  d  a.
D  e  s  a  c  o  n  t  e  c  e  r.
D  e  s  a  c  o  n  t  e  c  e  r.
D  e  t  e  r  i  o  r  a  d  a.
A  l  e  a  t  o  r  i  a  m  e  n  t  e
D  e  t  e  r  i  o  r  a  d  a.
D  e  s  a  c  o  n  t  e  c  e  r.
D  e  s  a  c  o  n  t  e  c  e  r.
D  e  t  e  r  i  o  r  a  d  a.
A  l  e  a  t  o  r  i  a  m  e  n  t  e
D  e  t  e  r  i  o  r  a  d  a.
D  e  s  a  c  o  n  t  e  c  e  r.
D  e  s  a  c  o  n  t  e  c  e  r.
D  e  t  e  r  i  o  r  a  d  a.




 =  ~  =
No sopro de um Deus criou-se o reino
E dos alísios profundos flutuam as coisas
Todo o império flutua, vaga, vento leve-ar.
Por isso o reger não tem fronteiras. Amplidão
Tudo se movimenta em curvas e almas
Nenhum corpo e nada por repetir
Mutantes atemporais de pétalas perdidas
Nenhum conselho. Palavras poéticas aladas
Neste reino uma brisa se fez rainha
Amada sequer sabia o sabor do experimentar
Nada de externo. De interno um hálito de frescor,
Um exalar perfume em rota de leveza e encanto.
Gostoso brincar de toda coisa alguma tudo
Tocar no tocar dos encantos e ouvir a dança
Dos movimentos suaves de insinuantes instantes,
Levitar o corpo sem pessoa e sentir todos os sentidos
Os beijos entre algas e neblina
As mãos afagam mármores e begônias
Os olhos nada vêem e sabem o campo aberto em primavera
Um beijo, um instante. Ínfima grandeza de infinito.
Em algum momento veio alguém que não entendeu
Pensou em tudo e com sabedoria tocou e trocou o reino
Trocou amar por justificativas dispensáveis
Trocou sentir por explicações inexoráveis
Abandonou vagar por uma realidade de membros
Palavras poéticas catadas ao léu viraram performances.
O sabor do amar virou famigerada angústia
E nunca mais se viu beijar sorrindo. Sério.
Ahhhh, poeta, poeta! Só você não vê que seu reino se foi
Que queres crer de um mundo de compasso e régua
Abandona-te de teus desejos torpes de imaginações
Vá flutuar, como uma breve folha seca, leve e assimétrica.
Sabes que este reino não é seu. Ele é equivalente demais.
E você não é suficientemente bom para estar nele.
Vá vagabundear, dar tuas imaginações a quem te der de amar.
Vá regar teus beijos em sorrisos fartos. Deliciosos, ousados.
Neste mundo sem rabiscos arriscados não há arte.
Nem há ânimas em amanhecer no mesmo dia de ontem
Numa eterna aventura adiada para a inexistência.
Deita seu ser nessa relva de brisa e liberta-se de seus adágios.
O que tens a temer se o pior já lhe é
Tomou o lugar de Atlas e andas a carregar o mundo
Esta no mundo consagra apenas para flutuar.
Na brisa do amor que seu avatar se fez levar
Resgata o reino de beijar sorrindo
Lábios, línguas, palavras, pétalas excitadas.
Fluindo risos, gostos, prazeres, sensações e risos.
E no sopro de Deus criou-se um reino de flutuar
Lá é bom (é seu) lugar. Aguardo. Flutuando.
Onde tudo são delírios, orgasmos, algo assim.
Um vagabundo que queremos ser
E que não aceitamos que outros sejam.
Resta-nos sermos do reino dos outros.
Pesados, medidos, computados e vendidos.


 =  ~  =

  

Prefiro ir além do óbvio
Lançando-me nos porquês


 =  ~  =
  

Cada coisa dessas tem uma lógica
Um sentido
Sobre os quais eu nem imagino.
Mas, isso não faz diferença alguma.
Sendo tudo transitório,
Só me resta amar...
Nos caminhos.


 =  ~  =


O corpo desconhece o caminho que os pés fazem
Desconhecidos
A alma se desconhece
Todos me sabem tanto
Menos eu
Que me procuro entre afazeres
Que me procuro entre as suas pernas
Que me procuro

Sorrisos e gentilezas idiotas
Derramam olhares e concordâncias
E no meio de tantos, a moça que por ventura sinto.
Acredita que a olho apenas para comê-la.
Ela desconhece meu desprezo
Ela desconhece o que sinto
Ela desconhece o que penso
Desconhece
Ela não sabe que desconhece.
Sabe-me por inteiro
Enquanto eu...
Procuro-me.



 =  ~  =

Eu pensei que eu já tivesse esse cantinho...

Claro que você não tem um cantinho
Você tem todo o meu reino
e nele pode-se passear nu, dar as mãos,
deliciosamente imperfeito e instigante
Um reino no qual a única obrigação
é ter e dar prazer. A única Lei é ser feliz e
duas palavras foram suprimidas do dicionário:
Liberdade e esperança.
No reino que falo a liberdade é um fato que
não permite a esperança fazer sentido, porque é comum
e gostoso sentir o sabor da vida em todos os instantes.
Neste reino, pensar também é proibido
"Pensar é estar doente dos olhos"

A mando do rei todos ganharam um cantinho:
Um lugar de pôr tesouro.
Mas, nem o mais sábio dos sábios sabe
que o tesouro que guardo
são as cores do que sinto
É um sentir tão grande, que se confunde com um universo.

Para alguém é que imagino pelo menos um cantinho.
Acredito que faz falta um cantinho.
Um cantinho das delicadezas onde se pode criar um reino
ou não
Um universo de emoções
ou não
Colorir ou deixar sem

O que sei é que cuido com um carinho enorme do meu reino
Pra alguém que quiser, e eu também quiser, poder passear...
Um cantinho é um universo, se alma se encanta.


 =  ~  =

Saúdo a delicadeza das romãs, escarlates.
Ha muito barulho entre as gentes
Razões, raivas, palavras banguelas,
Citações a fim de mascarar burrices.

Saúdo o vento deslizando nos campos
Acenando a calmaria, encantos.
Saúdo as crianças, crianças.
Não saúdo sentenças. Não saúdo crenças.

Não saúdo fidelidade. Saúdo lealdade
Não saúdo ditongos. Saúdo encontros
Saúdo o amor na inadvertência de amar
Amanhecer... Amanhecendo. Saúdo a luz.

Saúdo a todos que não se deixam levar
Pela opinião dos outros, os conselhos.
E na diferença única nas múltiplas que há
Diz: “Quem sabe de mim sou eu”.

Saúdo a todos que desobedecem
As ordens dissimuladas. Doentes.
Saúdo a saída elegante. Silenciosa.
Saúdo a saúde. A leitura. O noturno.

Saúdo a poesia nossa de cada dia
O pão nosso de cada dia e, cada dia.
Saúdo o aprendizado de cada instante
Saúdo estar comigo se me creem deles

Oferenda:
Não conceber cansar tendo chão e desejo
Nem tristeza tendo paixão humana infinita
Jamais entregar-se por ser difícil
Fechar os ouvidos ao som desagradável
Tapar os olhos à paisagem cruel
Pode-se estar só, mas você é você.
Com toda sua humanidade.
Faça só ou juntos. Ame.
Do jeito seu de amar
Ponha mais amor que medo no seu peito.
Ponha mais ser do que ter na sua vida.
Ponha mais fantasia que angustia
Ponha-se para o dia e agarre-o
E da vida:

Poesia.

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