A Flor-de-Lis é a representação de um lírio. É
uma das quatro figuras mais populares do mundo. A Flor-de-lis é símbolo de poder,
soberania, honra e lealdade, assim como de pureza de corpo e alma. Era também o
nome da minha mãe – uma poeta da vida.
Este conjunto de escritos é um exercício de
prazer, apenas. Como tudo deve ser. Foram compostos em momentos absurdos, do
tipo reuniões, intervalos de aula, instantes de prova, devaneios, delírios e
vagabundagem da alma que perambula pela humanidade. Própria e dos outros.
É a mesma que via sempre
Das mãos dadas
Em San Martín , em
Che
P a l
a v r a s
e m
C a r n e v i v a
Só eu sei
O quanto te amo
E o tanto
Senti-nela.
No trafegar dos
sonhos
Ando comendo uns versos
Para
suportar os ratos
Passeando
nas horas
= ~ =
Para atender ao domo
Serve-se da
delicadeza alheia
= ~ =
O que você chama de vida
É na verdade uma lacuna
Poderia emendar com loucura
Se não lhe faltasse
Uns versos
= ~ =
Pra juntar as partes
Quando você te
encontrar
Posso
ainda estar por aqui
= ~ =
Sei-me
sem grande coisa alguma
Mas
pra quem não tem nada
Bem
que podemos fazer amor no impossível.
Tenho
o mundo porque não tenho coisas
= ~ =
Se não
fosse confuso
Se fosse mais simples
Seria menos história
= ~ =
Triste
do meu
amor
Tão
frequente na cabeça e no coração
E tão
ausente dos seios
Da bunda e da oceânica dela.
= ~ =
Se é que
te encontras
Não te
vê
Menos
te sentes
Existimos?
Pelo menos te pensas?
= ~ =
Aonde vai o ar
que sai da sua boca?
Aonde vai o perfume que sai de
ti?
Aonde vai a voz?
Aonde vai teu desejo?
Aonde vai você que jamais veio?
= ~ =
O
próximo passo
É
marca-passo?
Em-saio
= ~ =
Não sei o
que aconteceu no dia 16 de outubro de 1999
Nesta hora
Também não sei o que aconteceu
no dia 16 de outubro de 2009
Nesta hora
Bem que poderia estar tropeçando
nos teus tropeços
Nesta eterna hora.
= ~ =
O que
queres de mim?
Eu
mesmo não me tenho.
= ~ =
Rasgo a minha carne ao rasgar
das minhas palavras
No entanto as joga ao vento que
as espalha
Letras quebradas. Por aí
Quebra-cabeças, catar
Cacos, amórficos
= ~ =
tristezas
Engolindo nãos
Mastigando solidões
Venho engolindo negativas
Engolindo
coisas de minha impotência
Quando
você me pergunta sempre:
- O que tens para me dar?
Talvez
Infinitas dentadas
Sem
nunca ser engolida
Na sinfonia das horas
= ~ =
Em todo caminho que no meio do
caminho tem uma
pedra
Tem também um Carlos Drummond
de Andrade
= ~ =
O teu amor não me quer
presente
Quer-me em um futuro do
pretérito
Perde-se amor.
Por não saber que o tempo é
uma prece.
= ~ =
Triste
perceber
Que
o que nos basta é a ausência
Tenho
quase tudo que não quero.
O
meu amar
Foi
fazer por mim tudo por você
E
seu foi não fazer nem por você
Ao me
comprar certezas
Como se as tivesse.
Dar-lhe-ia
todas
Almoçaríamos
juntos
Ou
deitaríamos na cama
Com
lençóis de amanhecer
Sem
colchas de
retalhos.
= ~ =
Algumas
lacunas exigem loucuras
Que se não preenchidas
Permanecem
lacunas
Silenciosamente corrosivas
= ~ =
Não
quero lhe ver triste
Quero
quebrar o silêncio desse ruído
= ~ =
Não precisou mais
chamar
Nem obedecer
Não lavou mais a roupa
Nem o esperou mais para o
jantar
Não precisaria mais contar com
a feira
Do salário que também não ultrapassava
o bar
Não precisou ser flor
Nem Amélia
Nem avistou nenhuma investida
Livre, ficou em pé.
Observou o infinito oceano
imaginário
Que lhe trazia paz
Tanta paz...
Um imenso vazio de
possibilidades.
= ~ =
Tirar seu cabelo do rosto
Beijar sua boca
Profundamente
Lentamente
Línguas brincando
(.......................................)
Poder ficar com você
Ausentes
de tempo
Ausentes de tudo
Nós dois e nossos corpos
Um para outro
Pensamentos ausentes
Sentindo, Gozando
Orgasmando
Minha boca mergulhada nos
segredos
Mais íntimos e mais humanos,
Simplificando absurdos
Sêmen,
Ermo, lambuzados de pensamentos.
Deliciosos, poéticos.
Todos e tudo em nós dois.
Apenas o gozo de ser o gozo fará
sentido,
Sentindo.
= ~ =
Nada me impede de te desejar
Como uma serpente em minha cama
Nada impede de te querer
Como a Rita em noites garrafais
Nada me impede de senti-la nua
Deslizando sobre meu corpo e sorrindo
Nada me impede de comer você
Nem você. Já o fiz tanto e de tantas formas.
Nada impede de te ver comendo
A sedução das minhas mãos.
= ~ =
Para quê iria querer algo?
Não tendo, resta-me o resto
E, posso ter o mundo
Nos olhos dela
Todo o corpo infinito
Para navegar...
= ~ =
Para quê iria querer algo?
Não tendo, resta-me o resto
E, posso ter o mundo
Nos olhos dela
Todo o corpo infinito
Para navegar...
= ~ =
Esquecer a culpa que no meu sentir não se ocupa.
Tenho
culpas sem que me ocupe
Já se
matou muito por nada
E, por
saber, quero que me leve
Pra
cama
Seja
má
Afasta
de mim este bom-moçismo
Assombração
Ata-me
no meio de tuas pernas
Boca e
boceta
Mais
que uma perspectiva
Um reencarnar.
Hoje é
terça-feira, (23/11/2010) – chuva!
Nada
mais há...
Se não
fosse pensar em você
Seria
perfeito
E se
tivesse aqui comigo
Seriam
todas as possibilidades.
= ~ =
Domo
Domo,
doma
Domo,
doma, domina
Domo,
doma, domina, denomina
Domo,
doma, domina
Domo,
doma
Domo
A
morte re-reeditada
= ~ =
A postura
da mentira é a
Mesma
postura da verdade
O
humano é a postura.
Quem
ama
Refaz-se
virgem
Pra em
cada coito
Purificar-se
Reiniciar
Redescobrir-se,
virgem
Quem
ama
Alimenta-se,
reedita-se
Refaz-se
refazendo
Feito
curiosidade.
= ~ =
O amor
é uma
necessidade de a cada instante conquistar para outro instante conquistar outro
instante e conquista outro instante e conquistar outro instante de forma que
nenhum instante se repita em outro instante e em outro instante até se tornar
um prato de comida que se come num instante em que o sabor do instante fora
transformado no instante de suprir uma necessidade vital e por isso os
instantes se tornam presas aprisionadas para serem usados no instante que se
deseja e por isso os instantes vão se perdendo de outros instantes que se
perdem de outros instantes e no final percebe-se que o maior instante sucumbiu
no instante em que um simples instante deveria ser guardado para todo o
infinito. E, não se percebeu que aquele
instante é instantaneamente instante, ou etéreo, ou eterno.
= ~ =
Os olhos veem
Um
corpo contorcendo
Pode
ser tortura
Pode
ser orgasmo
Pode
ser loucura
Pode
ser um espasmo
Pode
ser doçura
Pode
ser escárnio
Pode
ser serpente.
= ~ =
No
momento
Não se
troca
A
mulher que se ama
Por
qualquer outro
Momento
= ~ =
Calo
Diante
de tanta erudição e sapiência
De
palavras sábias professorais
Calo-me
aos berros
= ~ =
A minha moça
Acha
Que do
passado se faz o moderno
Não
sabe
Que o
moderno é que refaz o passado
Não
cabe
Coitada,
trocou fazer pelo pensar...
= ~ =
Escrevi
um poema
Era um
papel ordinário
O
poema também talvez fosse
Não o
li
Apenas
coloquei-o no bolso
Joguei-o
no rio quando passava pela ponte
Joguei
porque me lembrei dele bem em cima da ponte
Um
poema que agora deve estar sentindo saudade de existir
= ~ =
O
tráfego dos meus sonhos
É sua
pele
Úmida,
flexível
Rubra
Nela
Amada
Nela
= ~ =
Que belo horizonte
Tem aqui no encontro dos montes
Dos seios lindos imaginados
Banhado do vermelho do sol
Que belo horizonte tem lá
Ali tão perto das minhas fantasias
Nos lábios ao lado tão próximos
Tão desejáveis...
Que belo horizonte belo e próximo
Chegando, navegando no olhar
Que horizonte belo de amar
Mãos no horizonte dos dedos tocarem no horizonte
Faltou virar
Para ver o horizonte de lá
Do lado de cá
Outras montanhas nas ancas
De desejar
Bom! Belo Horizonte
Que trazes tão perto do nosso olhar
Um amar lá no infinito instante
De olhar tantos horizontes
Tão belos
Quase ao alcance do paladar
= ~ =
Antes mulher que vi em mim em 03/12/2010 – 11:50
É a mesma que amei quando vi de fato e amo de fato
Quando vi de ver e sentir e enxergar
E vendo e aprendendo em cada visão
Em cada palavra, em cada diálogo, nos momentos,
Conhecendo... Sentindo... Aprendendo...
Não sobre ela, mas com ela em mim
A mulher que vi misturada em mim.
Me fez sentir o mundo
Sinto o mundo todo em mim, complexo e completo
Infinito mundo,
Todo o resto é um nada
Nós dois apenas
Eu mais você mais eu
Que é muito mais mulher ao mandar-me ir
Dá-me um orgasmo a levar comigo. O sinto...
Ejaculando toda minha efervescência secular
A sinto no fechar e abrir dos olhos.
Sentindo-me em você e sentindo você em mim. Sentido de existir.
Temo que meu corpo não permita mais que meus olhos se abram
= ~ =
Permanecemos no sol para
que a noite não venha
E vamos esperar o sol da noite.
Este já basta. Este lugar
também.
O mundo todo é isto aqui.
Morros, flores frágeis do
campo, algazarra de meninos
Um grupo de mulheres
mumificadas em poses convencionais
Tão previsíveis quanto um
filme trash
Neste lugar toda palavra
esbarra no silêncio.
As ditas, as camufladas, as ensaiadas e as
por dizer
Algumas apenas
Hei de tocar-lhe com olhar
Tocar-te-ei com gosto e desejo
Que carrego alforje
Tocar-te-ei com chama
aprisionada
Com os ossos fora do lugar,
dor e um olhar sem saída.
Se quisesse teria fogo e afago
de um deus
Todos.
Ou, mais que todos.
E terás um enigma só pra você
Enquanto a escolha me destroça
Enquanto o que queres é sentir
Que alguém te ama feito
palavras desenletradas.
Com os falares dilacerando
silêncios
Com a chama presa num bornal acessível a você
Com os enigmas que não se
desvendam
Enquanto todos os amores que
têm para dar
Tornam-se alguns apenas
E as alternativas nos
destroçam
Porque o que queremos é tudo
Ou mais que tudo
Corpos misturados a deriva.
Sem escolhas.
Chamas, espasmos,
gozo, cataclismos.
Submergir em um banho de
saliva
11/12
= ~ =
Ando passo a passo de destino
sobrevivente
Não abaixo a cabeça e obedeço aos passos
Somente quando quero no asfalto estar, apesar do rumo
Abortei inúmeros amores. Tive alguns que
Também se perderam na brutalidade dos dias
Somente a dor teimava em eu estar
Eis a dor que não é parte do meu cântico dos cânticos
A dor que me percorre no asfalto dos passos
É onde deformado destilo, minha incompetência e impaciência.
Leio o mundo nos livros e ao saltar entre uma e outra palavra
Vou acumulando dores da indignação e do pasmo
A justiça, a sede, a verdade, oculto, tudo me congela
A pele suada das dores da ausência que dói pelo corpo de
saudade
Num canto de espaço solitário sentindo a tortura
apresentar-se
Tremendo o delírio dos pés que tenta varar este inferno
Dói. Sempre dói. Dor de cabeça. Dor no joelho. Dores de alma
Se fosse artífice das palavras como um poeta diria que dor é
dar a luz a um verso
Mas a dor é real, vara a carne e a si mesma se criando no pão
nosso de cada dia
E o pior da vida é que ela nunca fica nua. Então nada se sabe
da dor além de sentir
Com delicadeza, determinação e apegos vão desbravando o vazio
Fazendo opção pelo mínimo tendo o mundo e se esgueirando
pelos caminhos
Se fosse poeta escreveria para esquecer que perdi os dias.
Emergir
Do ambíguo desejo alheio a vida se veste em trajes de festa
Dançando... Comendo o curso que o diabo amassou com o rabo
Às vezes penso no alto de uma montanha em que a vida pudesse
se despir
Invento poses para enganar a dor no trânsito de sorrisos e
olhares ocos
Ou tudo é bobagem e o sono sonha os mesmos sonhos de outono?
Quem me entende no momento é o esquecimento que foi dormir
pra dor passar
Quando o sono passar...
= ~ =
Amor mudo
Ardendo de amor, as cigarras cantam:
Mais belos, porém são os pirilampos,
Cujo mudo amor lhes queima o corpo!
Canção dos camponeses do Japão
Viver é adorável
Sinto dores, ausência, prazeres, emoções.
Sou próspero por isso
Às vezes que perguntam o que sou
Encontro a resposta no amanhecer
Sou um afortunado por isso
Às vezes penso no que gostaria de querer
Não me ensinaram a querer além das pessoas
Sou um venturoso por isso
Às vezes quando alguém indaga sobre meus sonhos
Eles são silenciosos gestos frágeis
Sinto, sei rir e chorar e por isso rei e réu.
Às vezes quando me perguntam aonde vou
Digo que a ida é também chegada
Do ponto de vista da amada
Por isso que viver é uma efeméride
No morder na carne da fruta doce
Sei o paladar e por isso estou completo
E por último quando a noite me encerra
Percebo que passei o dia de portas abertas
E tudo transitou por mim
E quando aquela pessoa suspende do meu amor
Percebo que passei a vida de coração aberto
Para receber-te meu significado.
Definitivamente finalizando. Quando alguém deseja
Sinto um prazer adorável em atender
É banhando no amor que amamos.
Não se revisa. Nem se passa um verso a limpo
E tudo serpenteia, ou agarrando coisas ou descarando,
Emaranhando no teu cabelo,
ou teu desejo me derramando
= ~ =
Uma mão paga
uma conta de luz
E outra quer pegar um lírio
Delírio: de amante virar
espanto
De riso a pranto e de encanto
a risco
E quem colhe o doce amor dos
teus anos?
Vem me dar a boca e a língua
Vem trocar pecado
Vem pro seu nêgo, vem de
qualquer lado
= ~ =
O que
quero para tempo que virá
Se
vier...
Que
venha no cantar
Transformado
na canção dos lábios dela
Contente
no final da tarde
Nada
novo de novo
Velhas
canções de final feliz
Em que
eu esteja ali, nos lábios dela.
O que
quero pro tempo que virá
Se
vier...
Que
tudo seja permitido
Navegar
no suor do corpo dela
Cavalgando
no eu-bicho-indefinido
Arregalando
versos de cristais
Espalhados
nos lençóis
Provocando
inquietudes de lilás.
Que no
ano novo de novo
Paz,
amor, saúde e dinheiro novamente
Mas, o
que quero pro tempo que virá
Se
vier...
Que os
postes possam dançar nas avenidas
Uma
pérola quadrada, uns absurdos
Uma
mudança de comportamento
Uma
festa no AP de uns vampiros gays
Sandálias
rasteirinhas e uma canção nos lábios
Um
campear por abril, versos de Jorge Luis Borges
E música
de Vitor Ramil.
Sentir
o som nas tardes diárias, com ela.
O que
quero pro tempo que virá
Se
vier...
Que
ela queira absurdamente transgredir
Ultrapassar
a faixa de chegada ao contrário
Aninhar
no ventre do vento varrendo a miragem
Um
leme de lâminas pra que tudo vá à deriva.
= ~ =
Poensando I
Sabe qual a diferença entre
uma coisa passageira e eterna?
Não?
É o desejo que cultiva o
instantâneo a permanecer.
Isso é de uma simplicidade
assustadora...
E sabe o que é o cultivar?
Não?
Amar as possibilidades
Isso é de uma complexidade
simplória
Não somos nós que reconhecemos
a eternidade
Ela se reconhece em nós
Complexos ou simples
Quando digo “Eu te amo”
Nada há de metafísico
Apenas um querer você comigo.
= ~ =
Poensando II
Sabe qual a
diferença entre desejar sentir e sentir?
Um "eu"
pelo caminho.
Brincadeira...
Não desejo sentir,
mas sinto desejando.
= ~ =
Se eu pudesse escolher...
Gostaria de ser a
figurinha mais fácil do álbum.
Do lixo, canto de
rua a uma gaveta de sonhos
Todos os lugares
são todos os lugares.
Se pudesse escolher...
Escolheria um esperar
por você
Arrumar a casa.
Arrumar-me
Pensar umas frases
bonitas para dizer.
Se pudesse receber
um conselho... Ia querer:
Para não demorar a
dar notícias pro meu amar
O vazio transforma
a forma de sentir
Tanto aguarda
quanto sofre, finda a fenda.
No vil colo da
vileza.
Uma nobreza
caótica afeita à covardia.
Se pudesse dizer...
Diria a todos:
Quem abandona também se abandona. Exclui-se
Do ponto de vista de
quem avista o ponto
A saber...
O amor que nos tem é tão
somente o que temos
É dele que se existe.
Algumas coisas eu
posso escolher...
Então escolho as
razões dos outros. Sempre.
Acho-as
imprestáveis, mas gosto do apego deles
Apesar de nunca
saber o que fazem com razões
Sempre a vejo na
pauta do dia.
Por entre os
quereres que sejamos e a identidade
Há um oceano de
individualidades possíveis...
E se puderes escolher?
Que queres ser eu sendo
também?
A figurinha mais difícil
do álbum...?
Para tê-las há que se
juntarem tantas
Se eu pudesse
escolher...
Apenas quero
amanhecer amanhã
Ver uma garrafa de
vinho quase vazia
Uma mesa por
arrumar, lençóis amassados
E saber que
estivemos a estar ali.
Se eu pudesse escolher
Escolheria me preparar
Para receber você
Até que eu possa
escolher...
Dizer-te o que um
instante se cultiva eterno.
Não demores a dar
notícias do teu amor
Enfermo... Tanto
aguarda quanto finda
Mesmo sabendo que
é o amor que me tem amando.
Se fosse me dado a
escolher
Somente uma única coisa
nesta vida
Escolheria não saber
quem sou.
Saborosos os dias em que
eu não lembrei existir.
= ~ =
Poensando III:
Um dia meu irmão comentou comigo que
jamais amaria. Faria opção pelas putas. Faria opção de “o prazer pelo
prazer”. Segundo ele não queria compromissos
e menos ainda ser um estorvo para alguém... Faria opção pela tal liberdade e
pela leveza da vida... Claro que isso teve o peso da ausência... , da
solidão e tudo mais. Bem, se matou com suas opções.
No meio da
conversa disse que o amor traz algo de exercício de crueldade. Por entre
deliciosas iguarias por vezes nos aparece um prato de sopa com arame farpado.
Comemos sonhando com as iguarias que virão.
Às vezes elas não vêm e passamos a vida comendo os sonhos... Farpados.
Acho, no amor, a
crueldade uma forma de autoflagelo. E, mais, entre a farpa e a delícia, um
"como vai você", um "oi", um "tudo bem" pode por
uma mesa de amores fartos. Tudo ao alcance da emoção, da mão. Claro, com
apetite.
= ~ =
01/04/11
O meu amor
É o mais lindo
amor do mundo
Porque é o meu amor
Porque é como sinto
A paisagem do meu recanto
É a mais formosa paisagem do
mundo
Porque é a paisagem que vejo
Porque é como vejo
Isso não é uma pretensão
Se muito, uma sensação amorfa
Um jeito de se indignar
Entre a cólera e a coleira
Um tentar esticar os braços
E emergir você desse sistema
Que não se percebe imersa
Que não me percebo amorfo
Mastigamos nossos animais
Em salivas e molhos de
esperanças
Nauseando Nietzsche, porque é
como
Se deve amar, porque é como se
deve ver
E toda explicação que se finge
já entendida
De razões que se tem para não
senti-las
Produzir um anedotário da
própria vida
Uma piada ruim, mal ensaiada
por um idiota
A mesma sengracisse de quem se
vê sorrindo
Porque está sendo filmado.
Vigiado. Todos vendo.
Filme bizarro. Do estar bem ao
estar atônito
Ir dormir com uma ânsia de
vômito. Molho de escarro.
Quer-me distante, desejo em
corpo inefável
Paranóia, todos estão vendo-a,
todos estão sabendo-a
Todos a vêem cuspindo pigarros
de vida, insanos absurdos.
Atônito, tudo é nojo e vômito
e insônia e silêncio e só
Estarei distante. Sabendo que
a coisa “mais maior de grande”
É uma coisinha que nos arrepie
a pele, contrai os músculos.
Sem isso a estátua é sóbria e
brilhará.
Triunfante. Porém, inútil.
= ~ =
Fazer ou não fazer...
Eis a questão
Não faço
As questões permanecem
Faço
O mundo se refaz em questões.
= ~ =
Como
nunca sabemos do mal e do bem
Melhor
mesmo é ficar distante
Trago
em mim algo de contramão
De uma
direção que nem sei
= ~ =
Palavras
Ouço-as,
digo-as
Que
diz que digo
Que
digo e não sei
Engulo-as,
engodos
Paradas
na glote
Atribuídas
O além
delas estou.
= ~ =
“De tudo fica um pouco”
Drummond
tinha razão
Tudo
anda indo e deixando um pouco
Cada
vez mais Pouco
E,
pouco a pouco vai distanciando.
= ~ =
Se não
for para ver além do tamanho
O ver se
repete na retina
Tão
repete que nem se atina
Que
não se enxerga mais.
Se não
for para ser humano
Não
vale a força desprendida
Tão
repete nas coisas dessa vida
Que
nem se sente mais
Se for
para sentir
Como
quem apenas sente
Tão
repete os sentidos
Que
sequer se sente sentido
Se for
para gritar
E dele
se fazer silêncio
Tão
repete os sons
Que
jamais se desafina
Se for
para virar de lado
Sem
que se sinta o gozo
Tão
repete o gosto do desejo
Que o
desgosto esgota
E se
te cansas disso ou daquilo
Sem
que se perceba ancho
Tão
repete o fardo
Que
estais a moldurar o quadro
Se for
para sentir
O que
realmente quer
Então
entregue teus quereres
Na
dorna da ereção.
= ~ =
Sua
consciência vem do pior
De
onde você não vê
Não
percebe
Não
sente
Serve
Inocentemente
Sorvida
= ~ =
Tanta
falta de nexo
Ainda
bem que o amor é acrítico
Ainda
bem para o sexo
= ~ =
A
verdade e a mentira
Têm a mesma
medida
O
mesmo valor
Consequências
parecidas
A
verdade e a mentira
São
tentáculos tentando alcançar
A
tentativa é o sentido.
Quando não há o que fazer
Tudo está feito
Se quem espera nunca alcança,
ou
Quem espera sempre alcança
Qual, então, é o alcance da
espera?
O que se busca enquanto
aguarda
É talvez o levantar da burca
sem um rosto
O desnudar sem ter um corpo
Nada dentro
Nada mesmo
Nada a mais
Nem cais, ais, nem água a
deslizar na pele
Um parêntese a deriva numa
vida real
Que estacionou suas sensações
numa possibilidade
Andei a me deixar aprisionar
Fiz-me cativo de sua procura
Procuras em mim algo de ti,
algo entre as pernas
Algo entre uma pergunta
imbecil e
Uma decisão insana
E tudo se desconstrói na
espera
Nada dentro
Nada mesmo
Nada a mais
Mas os dias perduram e
transcorrem
Entre batalhas na mochila
sobre as costas
O peso e o deslizar no tempo fere
aos ombros
E tudo se estaciona
aguardando...
Aguardando... Aguardando...
Um hiato pendurado no varal da
tua vida real
De tanta ausência, cativo, me
fiz livre
Nada tens, porque não és
Nada dá, porque nada tens
Nada dentro da caixa de
correios
Nada a ermo percebe sua
existência
Nem o telefone toca, nem a
sombra
Até a lembrança esperando
espera
Um canto para deitar o
sentimento
Nada a mais... Nada a mais...
De tanto procurar em todos os
lugares
O amor se faz cansado. Procurando...
Procurando...
Dentro do mar
Nado a ermo
Nado mais... mais... mais...
E quanto mais se busca mais se
atrofia
No revés da profilaxia
Enquanto olho você, minha
estrela, meus dias
Querer você
Virou uma tela a derramar
novelas
No meu enxergar passivo na
frente da TV.
Sem te ver
Sem te ler
Sem te ouvir
Sem sentir
Meu Deus, o que chamei de amor
Virou uma indústria de
palavras de plástico
O original foi reengenheirado
e produzido em série
Nem houve mais sorrisos
fartos, nenhum sorriso
Os meninos trocaram o brincar por
executivos postados
A brincadeira por um negócio
burocrático
Tudo ficou mais triste
Nas lembranças compostas por
palavras
Sintéticas.
Acho que não -
reaproveitáveis.
Todo não há,
Nada há
= ~ =
Seus beijos
Quando não os sinto
Sinto a falta deles...
E quando os sinto
Ainda mais os quero
É que a sua boca
Faz-me infinito
= ~ =
De
tanto ter esperanças
A vida me mostrou
Que não as tenho
Ha braços
Sonhos
= ~ =
Não navego em esperanças
E apesar de não,
Sou um otimista
Olho o mundo e me abro a ele
Conheço e reconheço minhas derrotas
Sei do pão que me falta e
Sei deste estado de espírito classe-média
Rondando minhas atitudes
Sendo grão sou parte da montanha
Sendo areia componho o mundo
E se quiser eu sei querer
E não querer se não quiser
Sou forte e percebo os ares
Inspiro-os e assopro
Envolve-me e transpasso-os
Não sei a ciência
Tenho meus assombros
E nem penso como muitos
Sou café de roça, amargo.
Ainda assim café
Sei saborear a vida e não empunho grilhões
Sei do grão, do germinar,
Do prazer, do gozar,
Do florescer, dos frutos,
Sei querer quando me quer
Sei não ter sem importar
Não sei a ida, mas a volta eu acho
Se assim o desejar
Tudo é composição
Do poema tosco ao bocejar de Deus
Nem há o que esperar
O que queres te aguarda
Se for para pegar
Senão,
Não!
Quem não sonha com a chegada
Aproveita mais do caminho
Meu rumo a ermo é meu sentido
Pode ser um beijo na mulher amada
Uma conversa, um tocar, um olhar
Bem no alcance do desejo,
Esse anseio, esse gosto, essa vontade
De se encantar
Se achar perde e se perderes achas.
Essa é a graça.
= ~ =
No dia que desejar sonhar
Mande-me umas pétalas de rosas
Um lençol de linho bem branco
E vamos derramar nossas delicadezas
No dia que desejar amar na carne
Traga-me seu corpo de petúnias
Doces, vermelhas, imergentes
E vamos cear nossos corpos
No dia que trouxeres seus fantasmas
Medos, turbulências e tempestades
Do consorte, da perda, dos outros
Vamos recolher as velas, em silêncio.
Espreitaremos o tempo em vigília
A pequenez que o trouxe que o enleve
Não tenho o que dizer menos que fazer
Senão catar sementes de begônias
E, se um dia, trouxer o seu desejo
Venha só com ele. Entre lençóis,
Pétalas de rosas, petúnias, içar velas
Navegar, navegar, navegar, amar...
= ~ =
Eu canto
Enquanto encanto existe
E como Cecília
Nem alegre, nem triste.
Poeta?
- Bicho!
Encanto
Enquanto cantar resiste
Como epigrama
Nem duro, nem brando. Pétalas
Nem longe, nem perto. Pegadas
Nem tudo, nem nada
Menos entender
Ater
A Tez
= ~ =
A
aspereza dos dias
Não me
dá oportunidades de esperanças
Reconheço-me
na lida.
= ~ =
Ela quer
uma narrativa
Não a
tenho
Uma
personagem
Que
não sou
E
minha boa história começa com um ponto final
Ou no
máximo:
Um
papelzinho marcando um encontro
Uma
receita de cozinha
Um
endereço qualquer
Um
rascunho
= ~ =
Salinas
V
Região
de Barreiro Branco
Pai
Pedro (9 – 17/07/11)
9
O sol
O sal
O pó
Uma
paisagem hora bege, ora cinza
Um
olhar que arde
O sol
O sal
Um
pensar no meu amar
Um me
despir
10
O sol
O sol
O sol
O sal
O pó
O pó
Uma
estrada, longa, de sol
Um
pensar pra sentir
Um
sentir sem pensar
Despido
e debulhado
Meu
amor, onde está?
11
O sol
O pó,
poeira, areia, sol
O
pó-sol, poeira-sol, areia-sol, sol-sal
Todos
os poros aquecidos de sol
De
acolhidas
De
humanidades
Há
dias que nem vejo uma nuvem
Tudo
se arregala e expande
Tudo
tão aberto
Gostaria
de ter você aqui
Nesta
imensidão toda
Desfrutar
dessa grandeza quente
12
O sol
Brilho-sol-arde-brilha-sol-arde-brilho
de sol arde e brilha o sol
Banho
de rio. Bom!
Vejo
você refletida nas águas do rio
Passas
com a correnteza
Que
deságuam no meu sentir
Pura
ilusão de ótica, não há correnteza.
Nem
você passa.
Tudo
fica ao largo da paisagem
De uma
memória ardendo
13
O sol
Tudo
aqui é extremo
O que
é pobre – Miséria!
O que
é rico – se farta
O sol
é muito, a vida pouca, o tempo insignificante
O
infinito realmente é infinito
As
histórias dos humanos se pulverizam ou se ajuntam
Ninguém
se importa muito
Rico e
pobre aqui se encontram nos extremos
Não
sei identificar o que é rico ou pobre aqui.
Não
percebi os extremos entre os infinitos
Desejei
sentir sua carne, seu seus lábios todos
Ri
porque imaginei aonde poderia ser:
No
sol, no pó, na imensidão do espaço
No
realmente infinito
14
A lua
Aqui é
grande e perto
Acho
que a alcançaria em um salto mais afoito
Daria-te
se estivesses aqui
As
estrelas... tem mais em uma noite, mais que jamais vi em toda a
minha vida.
O mato
não é mato
É uma caricatura
feita a nanquim
Tudo
seco, seco, pó e sol. Tanto.
Aqui
não sei o que sou
Lembro-me
de você e penso que vou me encontrar no caminho de volta
Vou me
levar pra você
Nunca
a limpo, sempre a rascunho
Escrevendo
nem sei por quê
15
Minhas
pernas doem
Meus
olhos ardem
Minha
pele ressecada quebra e risca
Não
olho adiante, olho os pés
Colírios,
hidratantes, cremes
Produtos
da idiotia urbana que não me servem, inúteis.
Quando
levanto os olhos
Quando
se consegue,
Vejo a
estrada ao longe
Muito
longe
E o
sol
E o pó
E o
sal
Poder
te imaginar no final
Levando-me
pra você
É o
que há de lirismo
Que
aqui quase não há
Só os
raros momentos no entorno do fogão a lenha
Um
olhar que percorre entre o ver e se perder
Na
imensidão infinita das veredas, por vir.
16
O sol
Pequenas
e insignificantes nuvens borram o céu
O sol,
o sal, o pó
Tudo
na paisagem é tortuoso
Não há
figuras
Nada
tem formas
Da
janela um galho seco de uma árvore seca de um sol e sal
Constantes.
Pés de
espinhos
Espinho
nos pés
Dores
Internas
e externas
17
Andar
Sob o
sol
Sobre
o sal
O que
passou é o mesmo que se vê na frente
Uma
estrada, poeira, sal e sol
Um
entorno seco
Uma
imensidão velando a própria imensidão
Para
qualquer lado é qualquer lado
O rio
“Salinas-véia” não sabe se vai ou vem.
O
vento ruma, rema em único remo
Fica
em círculos
Causos,
casas e bocas embaralhadas.
Coisas
ocas das horas que se deslizam ociosamente imperceptíveis.
Preciso
me reencontrar o tanto de compatibilizar meus sentimentos
Preciso
de alguém que me devolva o remo
Para
que possa me perder e reencontrar minhas solturas
Achar
uma sombra, uma noite sem lua, construir meus labirintos.
Aqui
Todos
os dias são dias intensos, de sol
Todos
os dias
E nos
dias de mais dias
Em que
o futuro são os mesmos dias
O
útero fecunda o claro
Que dá
luz a luz do dia.
Despido
e só
Sento
na imensidão
Aguardando
eu me buscar
Pras
veredas dos meus desarranjos
Porque
aqui os dias são iguais
E só o
que toca minh’alma
Vem de
ti, feito labareda
Emaranhando-me
os dias, os desejos
Que em
teu corpo desenredo
Esparramado
no infinito.
= ~ =
Escravidão
espontânea
Comprometida
Da
menina - Débora
Que
liga
Liga
Do
celular que anuncia
Evita
surpresas
A
alguém que do outro lado
Não
atende
Não
entende
Não a
tende
= ~ =
O
amor...
O amor é desalinho que se aninha
Fertilizar os sonhos, fecundar a vida.
Desqualificar o sábio, o ávido
Reinterpretar o dia ao anoitecer
O amor é desatino de um olhar
Um não ver sentindo de tocar
Um revés da planta à semente
Flutuar em ser a lucidez e o demente
Qualquer gesto seu diz mais que sim
Mas o intenso silêncio diz não
Vou? Fico? - Se o segredo cantar?
Então amar é qualquer coisa assim
Que me embala feito a um grão
E pensar em ti é me germinar
= ~ =
Recebi
um e-mail-mensagem que
Diz
que podemos ser o que quiser... Será?
Queria
ser só um caminho...
Não é
o espaço. Menos é pela jornada
É a
inocência estética
Das mãos dadas
Silenciosas
Licenciosas
Algo
de... Sentimentos
Meiguice
entre os dedos
Pegadas
de carinho
No
caminho do caminhar
Nessa
estrada, o Infinito
Sempre
vem ao nosso encanto
Meus
olhos singelos vêem você
Caminhando
sobre o amar.
Para um retorno à
brutalidade dos dias...
Há que se ter um pouquinho de
poesia
Ou de loucura...
= ~ =
Creio em
minhas lágrimas
Porque liberta a dimensão
exata
Das minhas emoções
Creio
no pranto de Deus
Porque
ilustra a extensão estática
Da
criação Dele
Creio em seu choro silencioso
E dele sou a superfície
Derramada e só
Creio
no choro de todas as mães
E
delas sou filho e parto
Da luz
ausente
Creio no choro dos filhos e,
muito
Mais que creio, ofertório
Sei-o que não está
Creio
no choro de todos os amantes
Solitários
e tanto
Folhas
e vento
Creio no choro rítmico dos
poetas
No seu canto e dor
“Que
deveras sente”
Creio
no choro da moça triste e chorosa.
Vertida
em orvalhados olhos
Arregalado
leito
Creio em meu choro esculpido
em aço
Verdade, vítima e motivador
Ferido, vencido e vencedor
Creio
mais e com mais ardor
no choro do amor
Amor
de amar secretamente
Dor
maior de não poder sentir.
= ~ =
Não é
possível fechar a alma como quem fecha os olhos
E não
sentir como não querer ver
Nem
virar e fingir que não acontece
Nem
dizer que não existe
Nada
disto é metafísico
É tão
real
Que
esta vida tão pesada,
Tão
pesada
Flutua
pela brisa
Flutua
pela brisa
Alcança
coisa alguma
Em um
instante fugaz
= ~ =
Minhas
opções são claras:
Amanhecendo
Viver
Vivendo
Emoções
Prazer
Amanhecer
Um
luxo.
Entre
nós uma roupa
Uns
medos
Uma
vontade de ver meu rosto
Entre
as suas coxas
Sentir
sua mão pegando minha mão
E pousar
no seu corpo
Se
permitindo
Amanhecendo,
sem nada mais por vir.
Acontecendo
= ~ =
O que
há para entender?
Mais
uma morte
No
colo de uma mãe
Da
morte entendem-se como todas
Morte
é morte e nada mais.
Da mãe
o drama percorria minha retina
Dilacerava
a alma em cada instante,
Queimava
minha veia em ácidos
Bombeado
para um cérebro de
Pensamentos
desesperados e só.
Naquele
instante, dinheiro, papeis para preencher,
Datas,
nomes, endereços, coisas que violentavam,
Conseguir
um carro para transportar uma mãe
Um
dinheiro para um lanche, um lugar para
Tomar
um banho. Tanta violência...
Instante
de pouco caso da saúde pública,
Do
profissional insensível, do custo.
Da
falta de alguém que diga eu faço
Eu
também me preocupo, compartilho
Não
conseguia entender como a mãe
Também
não falecia junto à filha.
Não
entendo uma criança doente de câncer
Com
morte em hora marcada.
O que
eu estava fazendo naquele instante
Em que
acompanhava todo o processo.
Detestando,
mas pedindo, clamando
Por
socorro, por dinheiro, por milagres, migalhas.
Por
amor, compaixão, solidariedade.
Pedir
a quem? Quanto não é muito.
Quanta
dor, quantos, onde...
Uma
cerveja pelo amor de Deus
Preciso
ouvir alguém falar de carro
Falar
de coisas, de viagem, de roupa.
De um
programa de TV. uns sapatos novos
Algo
que me retome para a pequenez da vida
Para a
insignificância do ter.
Façam-me
crer que a vida é isso aí:
Uma
escolha entre coisas e gentes.
= ~ =
Recebi o seguinte recado:
Se vc lesse as coisas com sequência,
entenderia melhor.
Resposta:
Se eu lesse assim...Ou se lesse
assado...
Um laudo, um perito, um especialista.
Technicist - demasiado antropotécnico
Não é para eu que não sei ler
Poderia ler uma flor
Se ela se fizesse lida
Adoraria...
Poderia ler uma emoção
A leria com a alma e corpo
Interpretaria as sensações
Poderia...
Espontaneamente ser o texto
Se o contexto assim quisesse.
Como a arte que é arte naquilo que se cria.
Uma pedra que se torna estátua
Uma palavra infinita
Leria tudo... Ternamente.
Mais, muito mais: Seria a história.
O que quiser...
= ~ =
Estou sentindo falta de
seus poemas.
Eles me acalmam(...)
Eles
também sentem falta de você
E
sentem falta deles mesmos.
Gostaria
que fossem meus
Como
na ilusão dos filhos
Assim
poderia ofertá-los
Ou
usá-los como terapia
Não!
São
tão infantilmente verdadeiros
Que
por si só voam
Escapam
entre os dedos
Desgarrados
se constroem
Nos
desarranjos de si mesmo.
Próprio.
Desapropria-se.
= ~ =
= ~ =
ascemos
tão espontâneos
E
adquirimos educações.
Sapientes
e cumulativos
Encontramo-nos
Numa
inequação qualquer
Cujo
valor de “x”
Nada
significa
= ~ =
E quando apalpa coisas indefiníveis
Procurando sentido em algo que encontre
Algo que tenha uma relação com sua vida
Nada encontra entre o pensamento e o
toque
Sente vontade de dar sentindo as ações
Reza, deseja, compete, perde-se, pede.
Sem mais intuições, prostitui-se feito
santa
E, do nascimento a morte está no meio.
Dói
As cores do mundo não são vistas como
cores
Sons cinza e percepções estreitas
repetitivas
De um corpo que não dança e não se
entrega
E não canta, não sente, não se derrama no
gozo.
Feito cadela lambendo o próprio rabo
reza a santa
Que não se perturba na mesmice da oração
repetida
Tudo tão palpável e arregalado na retina
dos olhos
Que ver é só uma ação reproduzida e de
novo nada
Um corpo arde e pede por prazer e quer
ser mastigado.
E quer se desmanchar e se misturar no
esperma
Ser o gozo a cena entre as pernas,
calor, luta de corpos.
E grita entre sons de máquinas e
silêncio, espasmos.
Berro gemido dos poros que refluíam
prazeres reprimidos
E livres a abanar os braços e o voo entre colinas e planícies.
Nada mais além de um orgasmo sentido,
ainda entregue.
Marcas vermelhas de luta e sexo, olhos
vagando nas delícias.
Vermelhidão, espermas deliciavam a pele
e o gozo acontecido.
Sem
saber qual hora do dia, dentro dela amanheciam indecências.
Uma
desordem de sentimentos e sentidos e sacanagens boas
Virou-se
de lado. Marcas em sua bunda denunciavam o amor
O
corpo na cama. A alma saiu para olhar os navios. Contemplando
Todo
mar de pureza onde os náufragos se divertiam nas perdas.
Todo
mar de amor onde os perdidos se ancoravam em algodões.
= ~ =
Lá está o menino
Menino bem menino
Tão inocente
Entre gritos de anarquia do recreio
Da visita na Associação de Pais
Dos excepcionais
O menino
Tão menino
Corre e me abraça
Com tamanha afetividade
Que pude sentir o hálito da vida
No beijo enviado por Deus.
= ~ =
Amei você
E
ainda a trago em meu pensar
Amei
Com um
amor que jamais existiu
E
trago em mim
Teu
retrato de cores cintilantes
E aura
perfumada
E vez
por outra
(Já
não sou tão moço)
Mistura-se
na cachaça
Nos
delírios
Desvario
Do que
foi
Sem
ter sido
Um
anoitecer
Sem
ter amanhecido
Um
desatino, uma comiseração.
Ao
amor
Que
não se fez eucaristia
Nem
corpo, nem sangue.
= ~ =
Profanei
O
último sagrado
Foi o
primeiro segredo
Descoberto
nos teus beijos
= ~ =
E ele rezou...
Tanta
fé
Tão
suavemente
Brandamente
Delicadamente
Tão
musicalmente
Que
Deus e todos os santos
Adormeceram
em paz.
= ~ =
Acho que
foi Brecht
Que disse mais
ou menos assim:
"Vocês
que nos usam
Feito
sustentáculos
Penseis
também
Do que
tens escapado".
Meu
amor,
Penseis!
= ~ =
Leve-me
Use-me
Abuse-me
Rasgue-me
Violente-me
Deflore-me
Coma-me
E se
algo sobrar de mim
Não me
devolva.
= ~ =
Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais,
mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais,
mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais,
mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais,
mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais,
mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais,
mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais,
mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais,
mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais,
mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais,
Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais,
mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais,
mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais,
mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais,
mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais,
mais, mais, mais, mais, mais, Mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais,
mais, mais, Mais, mais... . Agora chega
moça, eu não aguento mais.
= ~ =
Um
tempinho pra nada
Um
pensamento de relance
Fumo
um cigarro
Mergulho
entre palavras
E te
escrevo no desejo
Da
página que é vermelha
= ~ =
Logo
eu que ainda molhado de líquido uterino
Um
rebento
Nascendo
diariamente
Para
não ter que cumprir
A
missão do desejado.
= ~ =
Palavras
em carne e
osso
Palavras
escrita em corpo
Lidas
nos ocos e assombros
Lidas
pelos desejos, lascívia.
Palavras
em carne viva
Escritas
com luxúria e escárnio
Tão
pura quanto fecal
Tão
fresca quanto menstrual
Palavras
em desassossego
Em
estado cru. Tão Flexíveis
Quanto
a um cú. Que em si
Reconhece
a lágrima.
Disformes,
incompreensíveis
Excrementícios.
Cousa alguma
Um
gemido descarnado
Em que
se conta uma saga
= ~ =
Um vôo
além do óbvio
Assentados
em porquês
Uma
receita por fazer
De um passadio
inequívoco
Come-se
dúvida entre dádivas
E no
amor das coxas bebe-se
Etílicos
delírios e rumos hipotéticos
Crava-se
gozo nos lábios tatuados
E na
pele cromada e moldada
Na
fôrma a forma desejada
Fomenta
o fermento do desejo
E a
semente dilui no sêmen
Tragamos
um ao outro devorado
Quanto
mais comidos mais nutridos
Mais
famintos nos entregamos
Moto-contínuo
na roda-viva da vida
Presos,
nos libertamos na volúpia.
Velozes
ganhamos espaço sem fim
Entregues
e plenos um do outro
Tudo
tão nosso no plural da carne
Nenhum
pecado, nenhuma vergonha.
Nada
por sofrer, nem timidez.
Nem
ignomínia e jamais infâmia
Apenas
nós e tudo por fazer.
= ~ =
Buenos Aires tem
fome
No Rua Caminito, no Boca
Fome de liberdade
Nas mulheres da Plaza de Mayo
Nos palácios, museus,
obelisco.
Nos passos de tango de
plástico, capitalizados.
Buenos Aires tem fome de si
Tem certa fome de Europa que
também tem fome de si
Fome no Café Tortoni
Teatro
Colón, Puerto Madero
Fome de Jorge Luis Borges
De seus versos e prosas
Dieguito e Eva tem fome em Buenos Aires
Uma fome insaciavel de Buenos Aires.
A Buenos Aires é uma loira
divertida e que por ser loira se enverga linda e mente pra si
É uma erga-se
que só se vê quem olha pra cima
A Buenos Aires é múltipla
farsa entre a Europa/América e a cama
É quem é Buenos
Aires sedenta, faminta, mascando-se
A Buenos Aires ... fome...
Acometida
pelo vírus globarium uniformizarium e
se tornou igual a Pequim, Rio, Istambul, Reykjavík, Paris, Barcelona. Em Buenos Aires se não
fosse um estar com alguém, beijos e amor, não seria nada além de uma fome de
Buenos Aires.
Coadjuvante.
Os bons ares
De Buenos Aires
Vieram de estar
Vieram de ti
= ~ =
Nem sei do que fala
O livro que te dei
Só queria que soubesse
Que eu estava distante
Sabendo-me presente
Vendo-te angustiada
Quis libertar sua alma
E afagar a minha
Pois, eu te amo.
E se você está triste
O mundo fica sem poesia
= ~ =
Semeadura
No chão as sementes se lançam
em arcos
E a vida aconteceu e tudo
acontece
Brotos brotam rompendo o
espaço
Lentamente feito um cantar
romântico
A vida vai acontecendo:
As formas surgem e nada é feito e tudo
acontece
E esse acontecer dói aos olhos reticentes
Não há nada pra se fazer. Não!
Tudo vai...
Todas as coisas vão por aí se
coisificando e
Não podemos fazer nada
Não há nada pra se fazer. Não!
Aos humanos foi dado o amar
O que mais há?
Coisas a cuidar?
- Tudo vai acontecer
Coisas a ganhar?
- Tudo vai...
Nem há por que se espantar
porque vai amanhecer
Anoitecer... Amanhecer...
Anoitecer... Amanhecer
Nada poderá ser feito por
ninguém que mude isso
Então eu vou amar meu amor
Ouvir um amigo. Apenas ouvir
Ele chega e ficamos em
silêncio
Ficarei em silencio também com
meu amor
Abraçados nos entendendo em
silêncio
Sem perguntas...
Andar por aí
Brincar com uma criança e rir
um pouco
Tudo vai independente do que aprendemos
Acontece... Sabem-se ou não
As sementes se lançam livres,
se constituem, dão forma.
As formas surgem e nada é
feito e tudo acontece
Inclusive o amor que estava
ali para amar
Foi brotando... Amanhecendo...
Anoitecendo... Acontecendo
Amanhecendo novamente
Só não serei servido por aí.
= ~ =
Às vezes me pego colhido com os lábios numa foto digital e
Vou dormir com suas cores de labirinto que me desejam
O sono embala a saudade de aguardar o amanhecer para
O beijo que me espera.
Não sei das pessoas
Não sei do medo
Não sei dos riscos
De outra coisa qualquer
Não sei
Não sei do tempo que fui ao tempo que foi nem dos lugares que
estive
A porta se abre, o sol brilha e um beijo me espera.
Toda teia de palavras e todos os versos que foram ensaiados
Podem ser jogados na brisa após refazer-te-me feliz
O beijo que te espera é o que me amanhece-amanhecido
E nem preciso mais ser poeta pra falar pro meu amor
Não sei das palavras que ensaiei.
Os meus beijos que te esperam já sabem dizer “eu te amo”
Os beijos que se esperam sabem dizer “AMOR”
Refaze-nos,
Amando.
= ~ =
Nada mais doído
Quando tudo em nós quer cantar
E só o silêncio fica.
O grito mudo.
= ~ =
Meu grito
Tu
ocultas
Meu
desejo
Tu
ocultas
Meu
querer
Tu
ocultas
Meu
imaginar mais torpe
Das
noites ocultas
Em ti
ocultas
Meus
mais íntimos
Ocultos.
= ~ =
Há
confidência por traz do fato
Que
fica ansioso ensaiando
Outros chegares
= ~ =
Acredita tanto em tudo
Que
nada faz diferença
Deixa-te cair, apenas.
= ~ =
O que
há de vir amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã
amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã
amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã
amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã
amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã
amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã
amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã
amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã
amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã
amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã
amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã
amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã
amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã
amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã amanhã
= ~ =
Meu nome
Nos
teus lábios
Foi
uma inesperada canção
Um
desmanchamento no teu hálito
Inspirado, uma ternura
Uma revoada de sons.
= ~ =
O teu
amor se omite
Perde-se
Procurando-me
Entre pernas.
= ~ =
No funeral
O
morto teima em ficar
Entre
instantes ele sorri
Noutro
instante silêncio
Noutro
oculta
Depois
respira
Volta
a morrer
Cismado
Ando
cansado de velar
A
morte que não se deixa ir
= ~ =
Aproximo
do véu que cobre sua face
Perto.
Sinto um perfume que te disfarça
Uma
pose de agradecer desgraças como
Se delícias fossem.
Uma
pose sem corpo
Uma
caridade para as carências
Decifram-te,
teus oráculos, esfinges.
Uma
monja.
Ridicularizo-me
entre
Burlescas cores da aquarela
Bufo
Nada
disso
Nada
daquilo
Nada
dela
Entre
tantos tons
Nada De ver.
= ~ =
De tanto
haver ausências
Senti-la
distantemente
Volto
a sorrir
Quando
os pilares alvos
Que
sustentam este sorriso claro
Gratuito,
oferecendo-se a mim.
Maria
Clara
Teu
nome é ofertório
Que
vem preencher o meu ser
Amanhecendo
o dia
Que se
cansou de anoitecer
Se
pelo menos parasse de usar este perfume
Que te
disfarça em quem você é
Talvez
meus dias permanecessem morenos.
= ~ =
Entre
todos os rótulos
Dimensionais
Tridimensionais
Polidimensionais
Que teus
olhos me encaixilham e
Constroem
estruturas sólidas
Sobre
meu ser que não se sabe.
Algo
passa sem que perceba
- Ele é um animal que ama
E me tem muita ternura
Poderia
pensar isso simplesmente
Nada
mais é...
Se até
os carros são flex.
= ~ =
Deitam-se flores no deserto
Numa teimosia
inútil
Feito canções
inaudíveis
Compostas para
si mesmo
Até as flores de
plástico
Vão perdendo
suas cores
Perdem?
Nem as flores e
nem nada as tem
As cores existem
só porque existem.
Em um mundo que
se faz colorido.
= ~ =
Quando
tudo parece certo
Vem a
natureza
A me
construir os teus segredos.
= ~ =
Se não vai caminhar
Sai da estrada
Se não vai trabalhar
Entrega o boné
Se não vai assumir
Da no pé
Se não vai dar
Larga do pau
Se não vai comer
Não pega o prato
Se não vai sair
Arruma a cama
Se não vai dançar
Libera a dama
Se não vai morder
Nem começa a latir
Se não vai dormir
Levanta daí
Se for para fazer
Que seja agora
Se for pra morder
Arregaça a carne
Se não é pra viver
Que fique em casa
Se não vai fazer nada
Não conta o tempo
E se não vai contar
Nem queira saber
E se não vai beber
Não pega o copo
Se não vai pra gandaia
Não pega a noite
Que o dia não vem
E se não vai se perder
Não escolha o caminho
E se vai transcender
Não explique a piada
E se é pra amar
Só dando risada
Pra fazer equação
“vamo se embora joão”
Pra levar a sério
Diz que fui por aí
E quando for pra explicar...
Não sei.
= ~ =
O prazer que te alcança
É
o instante que te escapa
O amor que sentes
É
o sentir que te foges
O desejo que te invade
É
o prazer que evade
O corpo que em ti ancora
É
o que deixas à deriva
Nos lábios que te aporta
É
o sabor que deporta
A nudez que te obtém
É
o sentir que obstem
O tempo que te busca
É
o que deixas ir
A avidez que em ti acende
É
o calor que apagas
A beleza em ti refugiada
É
a alegria refugada
O quando vou
É
quando vai
Sou o que és, negando-me.
= ~ =
Não tenho nada no olhar
Mas tenho o olhar
E apesar de saber dizer
Não tenho nada a ouvir
E sabendo como amar
Não tenho o que querer
E aonde quer que eu vá
Não saio do meu lugar
Do que eu for me lembrar
Sem saber minutar
De todo seu movimentar
É a inércia a inventariar
Um acontecer a preterir
Até
D e s a c o n t e c e r.
= ~ =
Amor, eu disse
quando?
Disse quanto?
Eu nem disse
Da
janela espreito
A
fenda estreita
De
jasmins bucólicos
Nascendo
dos imbróglios
Dos
passos que te seguem
Dos
meus olhos.
Por volta da meia noite
Repousam no vazio
De uma canção
D e t e r i o r a d a.
= ~ =
Com o que
gostas
Em gotas
Com o que contas
Encantas
Com o que sentes
Experimentas
Com o que vens
Derivas
Com o que amas
Sonhas
Com o que desejas
Estimulas
Com o que existas
Gotejas
Com o que pecas
Encontras
Com o que conjugas
Buscas
= ~ =
A l
e a t
o r i
a m e
n t e
D e
s a c
o n t
e c e r.
D e t e r i o r a d a.
A l
e a t
o r i
a m e
n t e
D e t e r i o r a d a.
D e
s a c
o n t
e c e r.
D e
s a c
o n t
e c e r.
D e t e r i o r a d a.
A l
e a t
o r i
a m e
n t e
D e t e r i o r a d a.
D e
s a c
o n t
e c e r.
D e
s a c
o n t
e c e r.
D e t e r i o r a d a.
A l
e a t
o r i
a m e
n t e
D e t e r i o r a d a.
D e
s a c
o n t
e c e r.
D e
s a c
o n t
e c e r.
D e t e r i o r a d a.
A l
e a t
o r i
a m e
n t e
D e t e r i o r a d a.
D e
s a c
o n t
e c e r.
D e
s a c
o n t
e c e r.
D e t e r i o r a d a.
= ~ =
No sopro de um Deus criou-se o
reino
E dos alísios profundos
flutuam as coisas
Todo o império flutua, vaga, vento
leve-ar.
Por isso o reger não tem
fronteiras. Amplidão
Tudo
se movimenta em curvas e almas
Nenhum
corpo e nada por repetir
Mutantes
atemporais de pétalas perdidas
Nenhum
conselho. Palavras poéticas aladas
Neste reino uma brisa se fez
rainha
Amada sequer sabia o sabor do
experimentar
Nada de externo. De interno um
hálito de frescor,
Um exalar perfume em rota de
leveza e encanto.
Gostoso
brincar de toda coisa alguma tudo
Tocar
no tocar dos encantos e ouvir a dança
Dos movimentos
suaves de insinuantes instantes,
Levitar
o corpo sem pessoa e sentir todos os sentidos
Os beijos entre algas e
neblina
As mãos afagam mármores e
begônias
Os olhos nada vêem e sabem o
campo aberto em primavera
Um beijo, um instante. Ínfima
grandeza de infinito.
Em
algum momento veio alguém que não entendeu
Pensou
em tudo e com sabedoria tocou e trocou o reino
Trocou
amar por justificativas dispensáveis
Trocou
sentir por explicações inexoráveis
Abandonou vagar por uma
realidade de membros
Palavras poéticas catadas ao
léu viraram performances.
O sabor do amar virou
famigerada angústia
E nunca mais se viu beijar
sorrindo. Sério.
Ahhhh,
poeta, poeta! Só você não vê que seu reino se foi
Que
queres crer de um mundo de compasso e régua
Abandona-te
de teus desejos torpes de imaginações
Vá
flutuar, como uma breve folha seca, leve e assimétrica.
Sabes que este reino não é
seu. Ele é equivalente demais.
E você não é suficientemente
bom para estar nele.
Vá vagabundear, dar tuas
imaginações a quem te der de amar.
Vá regar teus beijos em
sorrisos fartos. Deliciosos, ousados.
Neste
mundo sem rabiscos arriscados não há arte.
Nem há
ânimas em amanhecer no mesmo dia de ontem
Numa
eterna aventura adiada para a inexistência.
Deita
seu ser nessa relva de brisa e liberta-se de seus adágios.
O que tens a temer se o pior
já lhe é
Tomou o lugar de Atlas e andas
a carregar o mundo
Esta no mundo consagra apenas
para flutuar.
Na brisa do amor que seu
avatar se fez levar
Resgata
o reino de beijar sorrindo
Lábios,
línguas, palavras, pétalas excitadas.
Fluindo
risos, gostos, prazeres, sensações e risos.
E no
sopro de Deus criou-se um reino de flutuar
Lá é bom (é seu) lugar.
Aguardo. Flutuando.
Onde tudo são delírios,
orgasmos, algo assim.
Um vagabundo que queremos ser
E que não aceitamos que outros
sejam.
Resta-nos
sermos do reino dos outros.
Pesados,
medidos, computados e vendidos.
= ~ =
Prefiro ir
além do óbvio
Lançando-me
nos porquês
= ~ =
Cada
coisa dessas tem uma lógica
Um
sentido
Sobre os
quais eu nem imagino.
Mas, isso
não faz diferença alguma.
Sendo
tudo transitório,
Só me
resta amar...
Nos
caminhos.
= ~ =
O
corpo desconhece o caminho que os pés fazem
Desconhecidos
A alma
se desconhece
Todos
me sabem tanto
Menos
eu
Que me
procuro entre afazeres
Que me
procuro entre as suas pernas
Que me
procuro
Sorrisos
e gentilezas idiotas
Derramam
olhares e concordâncias
E no
meio de tantos, a moça que por ventura sinto.
Acredita
que a olho apenas para comê-la.
Ela
desconhece meu desprezo
Ela
desconhece o que sinto
Ela
desconhece o que penso
Desconhece
Ela
não sabe que desconhece.
Sabe-me
por inteiro
Enquanto
eu...
Procuro-me.
= ~ =
Eu pensei que eu já tivesse esse cantinho...
Claro que você não tem um cantinho
Você tem todo o meu reino
e nele pode-se passear nu, dar as mãos,
deliciosamente imperfeito e instigante
Um reino no qual a única obrigação
é ter e dar prazer. A única Lei é ser feliz e
duas palavras foram suprimidas do dicionário:
Liberdade e esperança.
No reino que falo a liberdade é um fato que
não permite a esperança fazer sentido, porque é comum
e gostoso sentir o sabor da vida em todos os instantes.
Neste reino, pensar também é proibido
"Pensar é estar doente dos olhos"
A mando do rei todos ganharam um cantinho:
Um lugar de pôr tesouro.
Mas, nem o mais sábio dos sábios sabe
que o tesouro que guardo
são as cores do que sinto
É um sentir tão grande, que se confunde com um universo.
Para alguém é que imagino pelo menos um cantinho.
Acredito que faz falta um cantinho.
Um cantinho das delicadezas onde se pode criar um reino
ou não
Um universo de emoções
ou não
Colorir ou deixar sem
O que sei é que cuido com um carinho enorme do meu reino
Pra alguém que quiser, e eu também quiser, poder passear...
Um cantinho é um universo, se alma se encanta.
= ~ =
Saúdo a delicadeza das
romãs, escarlates.
Ha
muito barulho entre as gentes
Razões,
raivas, palavras banguelas,
Citações
a fim de mascarar burrices.
Saúdo
o vento deslizando nos campos
Acenando
a calmaria, encantos.
Saúdo
as crianças, crianças.
Não
saúdo sentenças. Não saúdo crenças.
Não
saúdo fidelidade. Saúdo lealdade
Não
saúdo ditongos. Saúdo encontros
Saúdo
o amor na inadvertência de amar
Amanhecer...
Amanhecendo. Saúdo a luz.
Saúdo
a todos que não se deixam levar
Pela
opinião dos outros, os conselhos.
E
na diferença única nas múltiplas que há
Diz:
“Quem sabe de mim sou eu”.
Saúdo
a todos que desobedecem
As
ordens dissimuladas. Doentes.
Saúdo
a saída elegante. Silenciosa.
Saúdo
a saúde. A leitura. O noturno.
Saúdo a poesia nossa de
cada dia
O pão nosso de cada dia
e, cada dia.
Saúdo o aprendizado de
cada instante
Saúdo estar comigo se
me creem deles
Oferenda:
Não
conceber cansar tendo chão e desejo
Nem
tristeza tendo paixão humana infinita
Jamais
entregar-se por ser difícil
Fechar
os ouvidos ao som desagradável
Tapar
os olhos à paisagem cruel
Pode-se
estar só, mas você é você.
Com
toda sua humanidade.
Faça
só ou juntos. Ame.
Do
jeito seu de amar
Ponha
mais amor que medo no seu peito.
Ponha
mais ser do que ter na sua vida.
Ponha
mais fantasia que angustia
Ponha-se
para o dia e agarre-o
E da
vida:
Poesia.
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