Texto para o Jornal "Rocinante"
Dá um
pouquinho de Freire aí.
É triste você ter um tesouro exposto
no quintal e passar necessidades básicas. A educação brasileira é bem isso,
temos alunos, temos professores competentíssimos, temos escolas e temos Freire.
Então o que falta é mão na massa, política e políticos sérios. Trabalho de
aproveitamento desse tesouro. Simples...
Mas, o borogodó é mais embaixo. Nada
há de simples na educação brasileira atual. Corte de gastos (investimentos),
marginalização dos professores e dos alunos, sucateamento da rede física,
baixos salários e pagos atrasados, “novo” ensino médio a formar mão de obra
acrítica, abandono dos Planos Nacionais, Estaduais e Municipais de Educação,
Escola Sem Partido, Nova Base Curricular Comum Nacional sem um amplo debate,
escolas como “linha de montagem”, alunos como massa de manobra. Fim do Piso
Nacional, das discussões do CONAE, interesses escusos em detrimento das
necessidades dos alunos, políticos descomprometidos... Você pode até dizer que
algumas coisas são necessárias, importantes e que é favor. Mas, do jeito que
está sendo feito, tipo goela abaixo, é no mínimo de se estranhar. (Uma
imposição ditatorial). A quem isso interessa?
A ideia de mudança, de consciência
crítica, exercício de cidadania, conhecimento da nossa formação
sócio-histórica, educação problematizadora, questionadora das condições sociais
e dos privilégios de alguns em detrimentos de muitos, uma educação reflexiva,
crítica, nunca interessou a elite colonizadora dominante deste país. Não só não
é de interesse das elites como também é motivo de ódio a ser destilado contra
educadores, escolas, métodos de ensino, etc. Sendo Paulo Freire o educador mais
lido no mundo, com um projeto educacional reflexivo, crítico, cidadão e plural,
em seu país é alvo de críticas violentas e restrições dessa elite que enxerga a
educação apenas como um gasto público desnecessário e doutrinadora.
Como professor, vou resistir.
Lamento decepcionar uma parte da classe rica e uma grande parte da classe média
que acompanha, feito cães adestrados, essa mesma classe rica que só enxerga
seus interesses particulares e que julgam como direito divino de herança. Não
é! São paus mandados e cegos por conta de uma falsa zona de conforto. Creio que
“amanhã vai ser outro dia”. Vou resistir!
Nas escolas brasileiras não há
partidos, se houvesse o Temer não teria dado o Golpe e com certeza o Senador
Magno Malta (Autor do projeto de Lei 193/2016 – que dispõe sobre o “Escola Sem
Partido) não seria eleito. Um professor não aceita manipulação, não aceita
interferência da mídia burguesa tendenciosa, não se furtará à responsabilidade
de mostrar para seu educando a realidade social na qual estão inseridos e na
qual deverão intervir para melhorias na qualidade de vida da população. Esse
compromisso com os alunos é mais que sagrado, é uma razão de existir. Vamos
resistir!
Vou continuar lendo, vou continuar
aprendendo, estudando, vou trocar conhecimento com meus alunos, trocar
diálogos, afetos, dialética, vou continuar bebendo da fonte de Freire, da
pedagogia do oprimido, da pedagogia da autonomia, da pedagogia da esperança, da
bondade, do amor... É preciso entender que este país é nosso, e é por ser nosso
que vou resistir. Vou dizer nos olhos dos meus alunos, vou ser sincero, vou ser
altivo, vou dizer que a verdade é uma busca constante, não há o que temer,
vamos ser bons mas não vamos nos furtar a denunciar os ratos que invadiram
nosso terreiro. Vão sempre tentar nos silenciar mas, nós vamos nos silenciar
aos berros porque podem nos destruir nos vencer... JAMAIS.
Você aí, presta atenção!
Acreditamos que a disponibilidade de livros é
um dever do Estado e deve ser um compromisso de todos para que o acesso à
leitura possa finalmente se tornar uma realidade no Brasil. É preciso criar
‘comunidades de leitores’, ‘clubes de leitura’, para mudar esse quadro
estarrecedor da leitura no Brasil. Nem vamos entrar nesses rótulos do benefício
da leitura ser uma viagem, blá, blá, blá... Fora as desculpas de falta de
tempo, de acesso, livro caro, sabe-se lá mais o quê.
No Brasil se lê pouco, se lê mal e o
comportamento é pior ainda. Raro a leitura espontânea e o pouquíssimo que se lê
são os utilitários para as aulas de português e olhe lá (Literatura
utilitarista). A poesia desapareceu das escolas e sobrevive amorfa nas
gramáticas para você achar o pronome, o substantivo, o advérbio e esquecer que
ali tem todo um contexto emocional, de musicalidade, linguagem e arte.
Entendeu, sujeito?
Se tem alguma afetividade para com seus filhos,
amigos, faça com que eles leiam. O futuro deles irá não só agradecer como
também o futuro do país. Aponta a pesquisa “Retratos da Leitura na sua 4ª
edição em seminário em São Paulo que 44% da população brasileira não lê e 30%
nunca comprou um livro e o que mais indigna é que a pesquisa perguntou a
professores qual tinha sido o último livro que leram e 50% respondeu
nenhum e 22%, a Bíblia. Outros títulos citados: Esperança, O Monge e o
Executivo, Amor nos tempos do cólera, Bom dia Espírito Santo, Livro dos sonhos,
Menino brilhante, O símbolo perdido, Nosso lar, Nunca desista dos seus sonhos e
Fisiologia do exercício. Entre os 7 autores mais lembrados, Augusto Cury, Chico
Xavier, Gabriel Garcia Márquez, Paulo Freire, Benny Hinn, Ernest W. Maglischo e
Içami Tiba.
O interessante dessa leitura ou falta dela é
como as pessoas tem opinião formada sobre todas as coisas. Principalmente em
Redes Sociais. Do alto de toda uma presunção de analfabetos funcionais (O pior
analfabeto é aquele que acha que sabe) sabem tudo sobre todas as coisas. Que
Deus nos proteja desses ditames.
Bem longe do preconceito contra os livros de
autoajuda, religiosos, Best-sellers, onde estão os clássicos? Os de poesia? Os
técnicos? Os formadores? Nossos caros amigos, temos a lhes dizer apenas uma
máxima do João Guimarães Rosa (Sabem quem é?)
“O sapo não pula por
boniteza, mas porém por precisão.”. Quer que desenha?
Qual é
a melhor escola?
Muitos pais ansiosos perguntam a nós
professores qual a melhor escola para matricular seus filhos. No caso específico
de Ubá, todas são muito boas. O corpo de docentes tem boa formação acadêmica,
pedagógica e são comprometidos com a educação. Isso por si faz a avaliação das
escolas da região estar em um nível bem satisfatório, muito bom. Tanto as
públicas municipais, estaduais e as privadas.
Há entre elas algumas diferenças na
essência de suas propostas, algumas tem uma vocação mais humanística, cristã,
outras voltadas para exames externos como Enem, outras voltadas para
empregabilidade etc. Mas qual é a melhor escola?
Bom, se você vai matricular seu filho e
está em dúvida, uma boa referência diz respeito a leitura. Ler é ponto
fundamental para formar alunos autônomos e protagonistas, portanto um bom
parâmetro é ao visitar a escola verificar os seus programas voltados para
leitura. Nesse aspecto a biblioteca diz muito.
Há escolas em que a biblioteca é usada como depósito de tralhas, em
outras é apenas um depósito de livros visitadas muito esporadicamente por
exigência de determinado conteúdo. Não há um projeto de leitura espontâneo. Não
há visitas espontâneas à biblioteca. Não há funcionário, nem estímulo da escola,
não há biblioteca (Pasmem). Uma aluna me disse em uma pesquisa para um artigo
que na escola dela “a biblioteca parecia um cemitério de coisas mortas e
amorfas”. Outra já me disse que a dela “é linda mas os funcionários não gostam
muito que a gente vá lá porque suja tudo e depois tem que limpar.” Outra me
devolveu a pergunta de forma bem irônica, “biblioteca, o que é isso? Pra que
serve”? Uma outra me disse que na dela “A porta estava sempre trancada”.
Se na escola tem “Festa da primavera”,
“Festa Junina”, “Gincana”, “Festa da Família”, do índio, do circo e etc, etc,
etc, Por que não há festa da leitura? (Não é o dia do livro) é da leitura,
porque livro sem ser lido, não existe.
Sempre achei que a cara da escola é a
imagem e semelhança de seus professores e dirigentes portanto, numa escola em
que a leitura está na pauta principal de suas ações, sempre vejo toda uma
beleza estampada nos rostos dos alunos, sempre vejo uma abruma de esperança
pairando sobre o ar da escola, sempre sinto um gostinho de futuro promissor
ali. Sonho? Pode ser. Prefiro acreditar que é trabalho comprometido com a
transformação.
Por falar em trabalho, se a sua escola
não tem uma biblioteca, comece uma. Arrume um lugar ai e faça uma campanha de
arrecadação de livros na sua comunidade. Vão ler!
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